Para os que não gostam de poemas com muito sangue e que vaticinam desgraças proféticas e de bíblicas proporções, aqui fica um poema muito mais doce, embora um coração e compreensão mais complexos que o anterior. Aqui vai:
Ao Caminhante
Tu, que no outro lado da floresta dos meus sonhos,
Vês que eu abrigo o teu caminho até chegar
A noite e o vento ouvires uivar, como os lobos
Em silêncio, escondidos, como tu, do frio nas grutas…
Tu, que na outra margem me vês ou então escutas,
Ouve o que te digo e esquece-o enquanto quente,
“O dia e o inferno ouvirás queimar, com pez fervente,
Em agonia, os escolhidos, como tu, p’ra este trilho morto…”
Tu, que no outro mundo tacteias o caminho cego e torto,
Sente as pedras a rolar só (e só) para tropeçares,
A tarde e o céu não estão, como pensas, aí para te guiares,
Em desespero, os pés tolhidos, como tu, só meio decidido…
Tu, que na outra terra morna bebes deste sangue esbatido,
Saboreia o salgado travo imortal do néctar divino.
O crepúsculo e o mar afogam os homens, como num hino,
Em alegria, requiem dos partidos, como tu, noutro barco sem rumo…
Tu, que na outra vertente desta montanha, sentes gelar o fumo,
Cheira a fruta madura que agora te negada é,
A aurora e o início voltam sempre, acredita, ateu de fé,
Em esperança, luz dos ressurgidos, como tu, na nova bruma…
Tu, da floresta, cujo mar do sonho levou na negra espuma,
Sê mais do que possas no caminho que temes,
A treva e a luz triturarão traidoras pelo que tu tremes:
Não de frio, nem de morte,
Decidido, mais constante qu’o corpo
Qu'apodrece e em pó se esfuma
Sem hino, sem rumo…
Vê, Caminhante!
Além da bruma…
Rafael Cardoso Oliveira
Citação p'ra ocupar espaço:
"Tua piscina tá cheia de ratos
(...) Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára."
Cazuza (O tempo não pára)
Frihet...
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
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