sábado, 21 de novembro de 2009

Amor de Predefinição

Irmãos,

Naquele tempo da tecnologia inexistente, em que Jesus pregava em terras de Nazaré, não havia, como por certo sabem, telemóveis. Tem esta afirmação toda a preponderância; é toda ela uma máxima indissolúvel de razão e todo o mote deste post que se vai, pacientemente, estendendo. Jesus não possuía telemóvel. A todos quantos mui pacientemente vão seguindo esta pequena dissertação sobre a tecnologia nos tempos idos do filho do altíssimo, seja esse altíssimo quem for, rogo-vos um pouco mais de paciência ainda. O suspense é uma daquelas características essenciais num post da dimensão do que se avizinha, principalmente quando não há, quanto à temática, muito a dizer. Nesse supradito tempo ido, Jesus espalhava a palavra do senhor, o amor ao próximo e a paz e tem isto tudo a ver com o tema que me traz aqui, neste dia 22 de Novembro do ano da graça de 2009. Antes de mais, note-se a profunda referência encapuzada ao romance do senhor Camilo, o Castelo Branco, no título deste post, algo propositado mas inócuo em toda a sua extensão para o assunto sobre o qual venho discorrendo; há ressalvas que devem sempre fazer-se.

(Dar-se-á agora o que parece ser uma mudança de assunto completamente desconexa que apanhará o público desprevenido, ou melhor, e como popularmente se diz, com as calças na mão ou com a famosa boca na botija, expressões de uma beleza tal que não é possível deixá-las conscientemente de fora de uma didascália deste calibre. Luz forte sobre as primeiras linhas.)

Estava eu, na imensidão de tempo que tenho à minha disposição, sossegadamente a ler mensagens e a enviar umas quantas, passatempo pelo qual não nutro qualquer tipo de interesse particular, leia-se, interesse igual àquele que o comum dos mortais nutre, quando me deparo com uma secção do menu de Mensagens que me vem surpreender com o facto de eu ter Items Gravados, items esses que consistem de 11 modelos de mensagem. Até aqui tudo bem, parece-me razoável e até amável por parte da empresa de software do meu telemóvel querer poupar-me ao trabalho de escrever mensagens que só me fatigariam mental e fisicamente, acho que eles são mesmo o que o mundo designa, mui comummente, das pessoas das quais se diz "aquela pessoa é muito humana"; definição ou ideia que, se formos a esmiuçar, não faz qualquer tipo de sentido, a não ser que se assuma por oposto de humano o "cínico" que se refere a, como sabem, cão. Aquela pessoa ser muito humana é um facto que, parecendo que não, é bastante banal e se se assume por humanidade uma qualquer qualidade que faz das pessoas mais altruístas e caridosas, bem se pode dizer que isso não é a definição de humanidade, simplesmente porque a humanidade não é caridosa ou altruísta. É um paradoxo engraçado, na realidade todas as pessoas são extremamente "humanas" simplesmente porque somos, na generalidade, uns cabrões ímpares, cada um à sua maneira, daí o ímpares. Qualquer referência que nos equipare mais aos suínos ou aos cães me parece mais ajustada, enquanto animais que somos, e por nunca chegarmos a atingir o estado tão bonito e utópico de Humanidade. A humanidade é assim, há que engoli-lo.


Mas voltando à temática que aqui me trouxe e deixando o drama, 11 modelos de mensagem; Nada há como explorá-los! São eles:

"Estou atrasado. Chego às"
"Estou em reunião. Telefono às"
"Agora estou ocupado. Telefono mais tarde."
"Chegarei às"
"Reunião cancelada."
"Vejo-o às"
"Vejo-o dentro de"
"Telefonar"
"Parabéns."
"Obrigado."
"Também te amo."

Espero que já haja alguém tão chocado como eu, tão avassalado por uma destas mensagens como eu. Vamos analisar:

7 destas mensagens são claras referências à vida profissional da pessoa que possuí o telemóvel. Estar ou não estar, marcar ou desmarcar encontros, telefonemas e reuniões parece-me algo que um indivíduo faz durante bastante tempo enquanto funcionário de uma qualquer empresa com situação financeira que se adeqúe a possuir um telemóvel ou mesmo a ter reuniões. E mesmo não sendo esse o caso, poderá ser uma qualquer pessoa um membro de uma sociedade secreta e ter "reuniões" e "encontros" que poderá marcar e desmarcar a seu bel-prazer e com uma celeridade consideravelmente maior devido a estes modelos. E só deus sabe como isso é útil nas sociedades secretas.

A mensagem "Telefonar" faz-me um pouco de confusão. Penso que ninguém, no seu estado de sanidade mental perfeito, envia uma mensagem a uma outra pessoa que começa com um verbo no infinitivo. Simplesmente não faz sentido: "Telefonar ao José para saber se ele vai à caça hoje." Soa muito mais a Lembrete do telemóvel do que a mensagem que alguém envie a alguém, por mais humano que seja ou pareça ser.

Temos depois as mensagens "Obrigado" e "Parabéns" que sem dúvida só dão mostras da educação de uma pessoa e da sua organização para saber quando é que algum dos seus amigos celebra mais uma primavera ou teve algum acontecimento marcante na sua vida. São modelos um pouco inúteis na medida em que é simplesmente mais fácil e rápido escrever toda a mensagem que se segue ao "Obrigado" e ainda mais especificamente ao "Parabéns"; que ninguém me venha dizer que algum dia recebeu uma mensagem simplesmente a dizer "Parabéns" e, caso tenha acontecido, o mais que sinto é pena pelo pobre infeliz a quem tão sórdida sorte veio abençoar.

E somos chegados finalmente ao cerne da questão, ao âmago do horror, ao centro da comichão.
"Também te amo."
Ora bem, este modelo pressupõe muita coisa, e tudo o que ele pressupõe me ultraja. Suponhamos que uma pessoa recebe uma mensagem a dizer simplesmente "Amo-te." basta ir aos modelos de mensagem do seu telemóvel e, sem pensar muito no assunto, enviar uma bela mensagem predefinida a dizer que o amor é correspondido. Sendo assim, numa situação meramente hipotética, quando alguém recebesse uma mensagem do seu amado(a) a dizer "Precisamos de falar..." seria de esperar que houvesse uma mensagem predefinida onde se leria "O problema não és tu, sou eu." ou então "Foi bom enquanto durou." ou algo similar.
Além de tudo isto, a mensagem "Também de amo" pressupõe que a pessoa venha a receber a mensagem "Amo-te" o que nunca acontecerá caso ninguém ame essa pessoa, como a mais pura lógica indica. Isto só vem acentuar a gravidade da questão! Quer dizer que a Dona Lurdes, solteirona, que nunca viu, mas sempre pensou e ansiou ver um homem do qual gostasse a fazer coisas marotas com ela, se chegar a comprar, um dia, um telemóvel destes com o que foi "ajuntando" do pouco que o salário da fábrica de sardinhas enlatadas em molho de escabeche lhe permite, e se chegar a explorar esta pequena pasta de mensagens modelo, sentir-se-á imensamente frustrada por nunca ter tido ninguém que a amasse à conta daquele furúnculo estranho que ela tem na orelha direita! Está Dona Lurdes muito agastada psicologicamente e ainda lhe cai mais esta em cima, o não ser amada. Nunca ninguém lhe enviará uma mensagem a dizer "Amo-te" e aquela mensagem modelo ficará perdida dos anais da (sua) história. Prepara-se Dona Lurdes para por o baraço à volta do pescoço e pendurar-se por um ramo da macieira da sua humilde casa de modo a acabar com a sua triste existência, até que eu a paro e a mato instantaneamente com palavras que vos dirão "Lurdes jaz aqui, no pó vocabular". Deve-se esta paragem não à bondade da minha alma mas mais à agudeza da minha pena que vos quer livrar da imagem de Lurdes a tentar, infrutiferamente, pôr termo à sua imaginada existência acabando estatelada no chão, frustrada porque o galho não aguentou os seus meros 104 quilogramas e um furúnculo de brevíssima existência escrita.

Tal como Lurdes, muitas pessoas nunca poderão utilizar essa mensagem e, se se pôde , em tempos, processar o McDonalds por apenas oferecer comida de qualidade tal que fosse nefasta para todos os seus inocente e iludidos consumidores e ganhar o processo, também será possível processar esta companhia de software por danos psicológicos severos causados a todos os mal-amados descobridores dessa mensagem "Também te amo". Uma indemnização no valor de todas as vezes quantas essa mensagem modelo não será enviada, num tempo de paixão ardente e fogosa, é o mínimo que um indivíduo pode pedir. Sendo o Amor esse fenómeno tão de hormonas quanto pensamos que é de emoções, muitas seriam essas mensagens que, num tarifário barato, a 12 cêntimos por mensagem, e numa época de muita e tresloucada paixão (300 mensagens de amor/ dia) se enviariam. Daria uma fortuna de fazer inveja ao Patinhas, com todo o respeito que por ele mantenho.

E quem me diz a mim que não foi assim que metade do mundo que pensamos controlar o negócio do petróleo enriqueceu? Sim, isto porque por lá (refiro-me ao mundo islâmico) as paixões podem ser várias ao mesmo tempo, como é sabido, e enviar a mensagem "Também te amo" a apenas uma das 7 esposas seria mais um motivo para originar quezílias desnecessárias na família! Quantas vidas e lares o amor predefinido já não terá destruído, meus caros?

E é chegada finalmente a altura de relacionar isto com o início do post:

Jesus não ia querer isto...

Citação de Revolta:

"I too am not a bit tamed, I too am untranslatable
I sound my barbaric YAWP over the roofs of the world."
Walt Whitman, Song of Myself

"Também te amo."

domingo, 8 de novembro de 2009

Códice

Caros Leitores deste Blogue de Horrores,

é meu dever informAr-vos de que, apesar do título deste post ser "Códice" este pequeNo parágrafo introDutório nAda tem de mensagem codificada, Só para prevenir que alguém com um espírito mais aventureiro, À la indiana jones, ou com demasiado tempo livre nas suas mãos, como é o meu caso, quisesse Procurar uma mensagem que, desde o início deste post assumi seR inexistente. O que mais me impressiona é que, dito isto, eu tenho a mais profunda Certeza de que há, neste momento, um caro leitor que, mUnido da sua faca de mato de desbRavar imensAs florestas e cerrações vocabulares, se atirou com a sua camisa já esfiapada e ensanguentaDa amarrada Em volta da testa para o meio da dita amazónia das palavras desconhecidas. de Que servem os avisos, senhores? Se me ignoram até aqueles que, de livre e espontânea vontade, vêm até este lUgar... enfim, àquele leitor solitário que ainda me lÊ (?):

Segue-se mais um poema, que é o que me dá mais gozo fazer e como as mensagens secretas são sempre moda nada como misturar o que me é querido com algo profundamente comercial. Sou o Dan Brown da poesia! Assumindo, com o epíteto, a gritante vertente de fantasia e embuste que, a mim, assenta primorosamente. Porque é giro trapacear-vos; e acreditem que é a coisa mais rigorosa que posso dizer, é simplesmente giro.

Aqui vai disto:

Códice

Muitas letras, em formas discretas e soturnas, escorrendo,

Escorregando mesmo aba’xo da lama do mundo, escondendo,

Negando a sua significação; de costas na parede quando o facho

Sentinela passa uma, outra e outra vez… sem perceber a respiração

Arquejante dos vocábulos escondidos, atrás das esquinas mais perto...

Gemendo e suando aterrorizados, mordendo os lábios assustados

E só têm por certo aquela discrição que lhes dá sua forma esguia,

Mais gordos fossem e alguém os veria…


E na estreiteza sub-humana dos seus eixos, na sua fineza de lados,

Se dobram quando o índex meio curvado os sublinha sem pintar,

Com a força que fazem por não respirar quando o olho passa sem olhar

Outra vez e outra vez, como em uma anterior e fútil investida

Nada lhe grita a mensagem principal. Não lhe aponta, por leal, a escondida.

Dá o dedo voltas às páginas, gasta o papel e erode lentamente a tinta

Ignorante de que o quadro que a tela dá a ver esconde o que ela tem(!)

Do outro lado, do avesso, por dentro da fortaleza que o quadro pinta

(A mensagem já passou, olhaste-a bem?)

Rafael Cardoso Oliveira


Citação Encriptada:


"Talent hits a target no one else can hit; Genious hits a target no one else can see."

Arthur Schopenhauer


"There is only one diference between a madman and me. I am not mad."
Salvador Dali


Promise not to bleed on my suit and I'll kill you quickly...
The Spy

Frihet

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma questão de interpretação...

Caro(s) leitor(es),

É com muito gosto que aqui venho hoje e com um orgulho desmedido porque ainda não passou um mês desde o meu último post e encontrei mais uma coisa com que o(s) posso atormentar. Pudera a felicidade ser algo assim tão fácil como chagar a cabeça às pessoas e haveria muito boa gente que a poderia vender engarrafada; a felicidade engarrafada, entenda-se, não a chatice engarrafada que essa já há de sobra e não há quem a compre (Vanish Oxy Action Intelligence Crystal White, alguém?).
Mas bom, o que me trás aqui não é a felicidade de quem quer que seja nem, por oposição, a infelicidade de ninguém; estou hoje aqui, às 6 da manhã, não porque sou um rapaz madrugador que tem de ir levar o rebanho a pastar ou apanhar hortaliças a esta hora, ou muitas outras coisas que as pessoas decentes e trabalhadoras fazem mas que a mim não me concernem de todo. Estou aqui pelo simples facto de ainda não me ter ido deitar, o que está a deixar quer os meus olhos, quer os meus neurónios à beira da revolta. Seria uma explicação gira para estar aqui e em parte bastante verdadeira, mas não valeria os minutos de precioso sono que me está a retirar.
Assim sendo, estou aqui para vos colocar, caríssimos leitores, uma questão. Questão essa de interpretação, uma vez que o título assim o solicita e sem qualquer surpresa, porque fui eu que o escrevi há cerca de 2 a 3 minutos.

Gostaria imenso (note-se que quase não caibo em mim, tal é a emoção) que tentassem interpretar este poema que se segue. Não há nada como por essas vossas cabeças habituadas ao descanso a funcionar! E eu sempre adorei trabalho escravo (Nota: A escravidão p'ra mim nada tem a ver com o tom de pele, se alguém quiser efectivamente, por bondade da sua alma, ser meu escravo ou, quem sabe, escrava estou completamente disponível). Devo lembrar-vos que isto já foi tentado uma vez através de um post que chamei "Sufrágio", mas agora interessa-me mesmo uma interpretação por palavras até porque escolher uma coisa que eu escrevi de entre uma pequena lista delas me parece, hoje, extremamente redutor da vossa capacidade.

Aqui vamos nós:

Chave


Meio do primeiro espaço, sobe, segunda linha,

Segundo espaço, curvando-se, passa-lhe a terceira linha

Como uma secante, marcando o descer encurvado,

Dobrado até à segunda linha através do homónimo espaço,

Que toca e passa continuando a curvatura pelo primeiro,

Toca de novo o primeiro traço numa pancada seca que eleva a linha

E a leva de novo ao traço de onde vinha, na mais linda das meias-luas.


Tem agora a forma de um pequeno e sinistro caracol, a preto e branco,

Quando o sol o não doira para que o venha saudar alegremente,

Aqui, se o faz ou não, não importa, que a curva continua excentricamente,

Serrando numa diagonal pouco comum: o segundo espaço, a terceira linha,

O terceiro espaço, a quarta linha, o quarto espaço, a quinta linha,

Lançando-se no vortex além! Até que, ninguém sabe porque, a curva volta

Volta envolta em mistério e na revolta com que impiedosa e fina cai sobre

Todas as linhas e todos os espaços, descendendo, como a espada de luz

Que corta a negra cortina de seda que até aí não significava coisa alguma…


E quando se pensa que acabou o corte, eis que a linha vira

E se arruma à sua direita, esquerda nossa,

Engordando num ponto de excesso que nenhuma linha quereria ter.

Esta o tem, por razão que desconheço;

Não acaba no oblíquo corte de espada e iluminação

Tem de o ter p’ra que se quebre o mistério das linhas, dos espaços duros,

Precisa da forma que tem…


P’ra quem vê pontos escuros.


Na escuridão.

Rafael Cardoso Oliveira


Agora é só dizerem de vossa justiça o que acham que o texto significa, é fácil e acho que até ficou uma coisa mais ou menos soberba. Estou a brincar, ficou, por certo, soberba (espero que entendam que a ironia é uma coisa gira).

Citação Chave:

"Never tell everything at once"
Ken Venturi

"The art of dinning well is no slight art, the pleasure not a slight pleasure."
Michel de Montaigne

I told'ya not to touch that darn thing...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O do detergente e das águas com sabor!

Um mês depois, vejo-me invariavelmente impelido a escrever qualquer coisa, por mais inútil e ordinário que o substrato dessa coisa a escrever se apresente. Neste caso é-o (inútil e ordinário) mas é também extraordinariamente divertido escrever sobre estas matérias tão comummente aliadas (detergentes e águas) em várias revistas cor-de-rosa, ou mesmo de telenovelas, naquelas páginas dedicadas às dicas para as donas de casa e às dicas para as donas de casa que querem emagrecer ou beber águas com sabor só porque é moda.
Dito isto, grande parte da problemática está explicada; é inútil, é ordinária (pela terceira vez) e não interessa mesmo a ninguém, mas, como podem prever desde que este post começou, este longo e enfadonho estudo ser-vos-á administrado com os modos de uma ama que não gosta de vós e que por isso vos força (com força sobrehumana) colheradas de algo a que ela gentilmente chamou sopa pela boca abaixo. Eu sou essa ama. Bem sei que talvez tenha sido uma má escolha de personagem para o papel de vilão, pois que me devem imaginar numa farda preta e com um belo avental de renda branca e um pano na cabeça a condizer...enfim, não caiam no esteriótipo, é tudo quanto vos posso pedir.
Mas deixando os devaneios, que são bonitos mas não são o que nos trás aqui, vamos ao prato principal. Começemos, porque somos pessoas educadas, pelo prato de peixe, que será o dos detergentes.
Quanto aos detergentes não há muito que se lhe diga, já se falou aqui sobre champôs e amaciadores e detergentes e os mesmos amaciadores. Falou-se nessa altura sobre os detergentes para a roupa, falar-se-á agora também um pouco disso mas juntamente com os detergentes para a limpeza de todo o tipo de superfícies e afins (note-se que se utiliza a expressão 'e afins' quando não se domina bem o assunto sobre o qual se discursa; usa-se esse belo bordão de linguagem que tão bem serve como porta das traseiras para que me possa escapulir antes de levar com o primeiro, e noutros modos certeiro, tomate que viria em direcção da minha distinta pessoa. Há que ter o profissionalismo de admiti-lo nesta nota, até porque entretanto já fugi com o pasmo em que estão perante a admissão de culpa). Esses detergentes costumam ter nomes bastante bonitos, que pecam por até serem simples demais, que falham por dizerem apenas o que querem dizer e é nisso que este post se torna interessante:

Cif Spray Limpa Fornos
Cif Inox


Aqui temos o exemplo de Cif, admirável diga-se. Cif Spray Limpa Fornos faz jus ao seu grande nome: é Cif, é um spray, e, adivinhem lá isto que ninguém estava à espera, é indicado para limpar fornos. Cif Inox é análogo mas para limpar aço inoxidavel. Até aqui, tudo bem.

Comfort Vaporesse
Comfort Essência Sun Fresh


Começa a aquecer o assunto que me trouxe aqui. Comfort Vaporesse: não faço a mais pálida ideia do que isto faz. Lendo no site da Comfort, pode saber-se que Comfort Vaporesse deixa a roupa com 'um agradável cheirinho a fresco' (coisa invulgar) e para além disso protege o ferro de engomar da acumulação de calcário. Neste momento nutro uma verdadeira fascinação por esta maravilha do detergir, claramente explicada no termo 'Vaporesse'...só o comum dos mortais é que não percebe como. Comfort Essência Sun Fresh: após uma pesquisa de cerca de 30 segundos, não há qualquer referencia a este produto, o que só me deixa tão embasbacado como quando encontrei o nome. Não faço, e desconfio que nunca farei, ideia da maneira como se capta a essência solar fresca para um detergente. Mistério da Fé.

Mas agora para a verdadeira maravilha, a verdadeira utopia do supradito mundo do detergir!



Vanish Oxi Action Intelligence Plus Crytal White
Karpex Vanish Oxi Action Intelligence Plus


Por favor, não comecem já a estrebuchar de pavor ao lerem isto, até porque não há como. Esta é a verdadeira essência do detergente, que é justamente aquele que ninguém desconfia para que serve! Vanish Oxi Action Intelligence Plus Crystal White? Mas o que é isto? Isto bem podia ser nome de uma doença qualquer e ninguém desconfiaria, não se sabe mais disto que o comum dos mortais sabe sobre a adrenoleucodistrofia X ou sobre o dodecisulfato de sódio. P'ra quê, senhoras e senhores, dar um nome destes a um detergente? E a adição de Karpex Vanish Oxi Action Intelligence Plus, e este sei eu que é para carpetes! Karpex? Sinceramente, há muito boa gente neste mundo que tem muito, e sublinhe-se, muito tempo livre nas suas mãos. E além de tudo: Intelligence? Estão a querer convencer-me que este detergente é mais eficaz porque possui algum tipo de remota inteligência é isso? Talvez seja a caracteristica mais credivel do pack... e daí talvez não.

Passando agora ao prato de carne:

As águas com sabor...

É moda, está tudo dito, e, como disse numa célebre crónica o ilustre humorista Ricardo Araújo Pereira (não ipsis verbis porque não tenho paciência para citar), 'água com sabor é um paradoxo, se tem sabor, não é água' sendo que a definiçao de água é ser insípida, faz todo o sentido e ainda 'no oriente já inventaram esta coisa da água com sabor aqui há uns anos, parece que lhe chamaram chá.' Está coberto de razão.
No entanto o que me trás a este belo porco no espeto de prato de carne, é um anúncio de outro dia. Água Formas Luso, de que a Telma Monteiro tanto gosta para manter a forma para o Mundial de Judo. Há-as com sabor a morango, banana, manga, maracujá, maça, fruta do conde, cereais, eu sei lá. Há-as a saber a tudo e mais alguma coisa, tal como as batatas fritas com sabor a churrasco ou a picanha quando só se quer batatas que saibam a batatas. E até hoje me pergunto quem foi o acéfalo que, no alto da sua sapiência, inventou estes sabores. Churrasco? Sinceramente... sabe à grelha depois do churrasco acabado, é ?
Mas o chocante disto tudo, que foi o que me trouxe aqui, é ainda o das Formas Luso que anunciam com uma voz sensual, num anúnicio em todas as vertentes espetacular: "Formas Luso, agora SEM SABOR" Pera lá, queres ver que eles se lembraram de engarrafar água? Não pode ser...

E com isto acaba a refeição.

Citações de Sobremesa (pode ser um crepe Suzette com uma bola de gelado à escolha):

'There's a fine line between fishing and just standing on the shore like an idiot'
Steven Wright

'Huh? What's wrong? House ran away? Dog on fire?'
Homer Simpson


"Books are useless! I only ever read one book, "To Kill A Mockingbird" and it gave me absolutely no insight on how to kill mockingbirds!"
Homer Simpson


These are the basics of the basics...

sábado, 25 de julho de 2009

Dulcineia

Parando agora este lento requiem por um momento, só para um poema pequeno. É como a pausa de um qualquer sacerdote para uma bolacha de pão e um cálice de vinho; se têm os homens tão de deus essa liberdade, também a terei eu aqui, que sou a forma mais perto da deidade que este lugar conhece.

Dulcineia

Escrever-te três linhas é pecado, é heresia,
Quisera algum deus (o teu) saber-te o fado
E, penso eu, nunca o saberia.
De ti a ti só vem esp'rança e fantasia, passa-te'ao lado
A cobardia do Homem normal e não tão forte,
Quisera algum deus (dos homens todos) saber-te o fado
E ter-te-ia enviado um teu Quixote.

Rafael Cardoso Oliveira

Citação a Dulcineia:

Dulcineia

Quem és não importa, nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo.

José Saramago, Os Poemas Possíveis

Por razões óbvias queria evitar as comparações inevitáveis entre os dois poemas, até porque o do Sr. Saramago é merecedor de muito mais atenção e mérito, pela profundidade com que caracteriza Dulcineia. O meu poema é meramente descritivo, é como um resquício do que ficou em mim dos Poemas Possíveis, e que tinha de escrever para não condenar melhores e maiores poemas à desgraça do plágio ou, pior que essa, à desgraça da influência. A influência torna a poesia, e a prosa, confusas; perdem a qualidade de serem espontâneas, puras e originais. A influência depressa desaparece quando se é influenciado por outras coisas, não há, portanto, o estado puro de escrita de que falei, mas penso que era uma ideia gira.

Um outro aspecto que me intriga é que o corrector automático de ortografia e gramática desta coisa, exige que eu corrija deus para Deus. É esta a altura em que os ateus e os agnósticos começam a fugir, que é engraçado como Deus está realmente em toda a parte. Para quem não deu conta, estou a ser irónico. E 'coisa' é das palavras mais usadas em latim (res).

É a Hora.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Dies Irae!

Nesta onda de Requiem vamos alterar um pouco as coisas. É este o dia em que este blogue deixa o preto, só porque a legibilidade reduzida até a mim me começa a incomodar. E, como não me quero incomodar em alterar todos os post em que disse que isto era 'branco no preto' ou em que fiz qualquer referência encapuzada ao negrume de breu deste lugar, vem o início deste post nessa linha de justificar esta minha suma decisão. Quanto a isto, é tudo.

Continuando a procissão, a missa, ou o que queiram chamar-lhe vem o Dies Irae, que traduzido à letra quer dizer 'Dia de raiva/fúria'. Como podem ver isto faz todo o sentido: O pontífice deste lugar, leia-se eu, num momento de inexplicável fúria resolve mudar os tons, d'um ponto de vista meramente cromático, deste sitio. Quanto a isto há duas coisas a dizer:

1. Era uma perspectiva engraçada e quiçá até bonita, mas que não é de modo algum verdade, era uma associação de ideias muito forçada.

2. Esta mudança de cor é como maquilhar uma mulher feia ou, pior ainda, um qualquer dragqueen que se veste de Liza Minelli aos sábados à noite; isto é, por mais voltas que eu (ou vocês) dê a este lugar isto será sempre a mesma coisa, agradável a uns, desagradável a outros e é nisso que isto ganha alguma vida.

2'. Conhecem, por certo, aquela ilusão de óptica em que há umas quantas linhas cinzentas interseccionando-se sempre perpendicularmente, como um quadriculado, num fundo preto, com pontos brancos em cada uma das intersecções. O efeito perturbador de ver esses pontos brancos transformarem-se em pretos dá-se em blogues de 'branco no preto', o que me estava a perturbar um pouco. Daí a mudança.

Agora à verdadeira relação do Dies Irae com tudo o resto: o Blogue que dá pelo nome de Rascunhos. Sim, Miguel, é culpa tua. Vendo o teu post lembrei-me de um Poema que escrevi há uns tempos e resolvi finalmente apresentá-lo ao mundo. Assim são dois blogues com posts concomitantes em relação a uma perspectiva interessante. É giro diria mesmo. Sem mais delongas aqui vai o poema:

Soneto Forte

Martiriza, por que Mavorte seja máximo, Vulcano o ferro quente,
Igniza, o grão ferreiro, a espada da sorte morta, lâmina direita e torta
Que desce por sobre o céu de sangue e o decepando cega a gente
Dobrada ante não a luz, mas a força cheia que’o negro ar corta.

É a gente fraca, a espada é torta, o dia escorre por entre os dedos mortais,
Marca-se cada porta de vermelho medo, sob o jugo celeste, por t(r)emor frio,
Fosco frio, que é connosco, e fraca força, que nos sobra e nos torna tais
Que tudo por nós é grande, forte demais, um nosso calcanhar fora de um rio…

Sem força, submissos perante o último filho do tempo imortal não devorado(,)
Sem esforço, que tudo nos é mais que o suportado, vibram raios perto dos ouvidos,
Somos petrificados de terror, pueris neste pudor de recear tudo o que mais é [fortificado.

Ah mortais do mundo! Soltai-vos das amarras, sede fortes, tende sede de dias subidos,
Negai os futuros dias dobrados e os dias idos e contados da pocilga do Passado,
Troai na terra e vê-los-eis no firmamento grande, tão de brilhos carregado(s), [genuflectidos!

Rafael Cardoso Oliveira

Citações de Fúria:

"I know it was you Fredo. You broke my heart...you broke my heart."
Michael Corleone, The Godfather part II

"Rorschach's Journal. October 12th, 1985: Dog carcass in alley this morning, tire tread on burst stomach. This city is afraid of me. I have seen its true face. The streets are extended gutters and the gutters are full of blood and when the drains finally scab over, all the vermin will drown. The accumulated filth of all their sex and murder will foam up about their waists and all the whores and politicians will look up and shout "Save us!"... and I'll whisper "no."
Rorschach, Watchmen

"Hahahaha...You have nothing to threaten me with. Nothing to do with all your strength."
The Joker, The Dark Knight

Let her go...


Sai a procissão do adro!

sábado, 20 de junho de 2009

Introitus

Nada há como os começos auspiciosos...


(o leitor aborda agora o texto ao som da música, tomando toda a cena uma carga dramática transcendental, profunda. Deve estar de costas para o público, para o mundo em geral, sem mostras de hesitação ou excitação como que o rejeitando; assim lê)

E ainda que muito se deva, neste caso concreto, a um génio que é hoje comummente aceite e aclamado, não menos se deve à expectativa que se cria quando há algo que, pelos melhores motivos, nos desperta a curiosidade (é conveniente que o leitor se aperceba de que "E ainda..." vem na continuidade da primeira frase escrita neste post e não cai ali de para-quedas, ou , pior até, sem ele; caso não o perceba é também conveniente que finja que percebe, aqui não há canastrões!). É isto que este post vem a ser (além de naturalmente tardio para vós, sendo que, em verdade, nunca tarda porque eu não prometo nada em termos da publicação assídua de posts por estar plenamente ciente da minha incapacidade para cumprir prazos e, ainda por cima, cumprir prazos em algo que faço por meu próprio, e sádico, gosto é algo que transcende as minhas normas neste local).

Admirem, também, o meu talento de escrever orações mais complexas dentro de parêntesis do que as que realmente interessam e que, como tal, estão fora deles. Espero que ainda estejam a ouvir a música, se assim não for recomendo que recomecem, o tom dramático de um requiem ajuda sempre: se estamos contentes é porque é bonito, se estamos tristes é porque é de uma nobreza inigualável, se o não soubermos apreciar, das duas uma: ou somos vítimas da ostracização musical que a sociedade impõe, admitamos que inadvertidamente, porque não vê a música como uma matemática aplicada (por exemplo) ou então estamos de barriga para o ar, mais bonitos do que alguma vez estivemos, rodeados de variados renques de flores e um coro de carpideiras se quisermos por as coisas em termos chãos. Não fosse o facto do rigor mortis o exigir e esta chalaça seria toda ela feita em termos menos metafóricos.

Se ainda não deram conta, este post destina-se unicamente a ser uma introdução, um prefácio, uma aurora para um esplendoroso amanhecer. Ou assim seria, se este sitio tivesse algo de esplendoroso...Mas não vos quero enganar, hoje os termos são simples, são latos, são baratos. Amanhã segue-se a marcha, não especialmente de morte, nem de vida, é só uma marcha cujo ritmo se marca hoje.Hoje há como que um luto de palavras. Silêncio.

Hoje não se diz nada.

Citação de eterno descanso:

Requiem aeternam dona ets, Domine,
et lux perpetua luceat ets.
Te decet hymnus, Deus, in Sion,
et tibi reddetur votum in Jerusalem.
Exaudi orationem meam,
ad te omnis caro veniet.
Requiem aeternam dona ets, Domine,
et lux perpetua luceat ets.

"I think not!"

Nota: Uma versão melhor do Introitus inclui também o "andamento" (parte da missa de requiem) seguinte no link que forneci (Kyrie Eleison), quem quiser ouvir, faça-o, sendo que está tudo no mesmo vídeo. Mas o que vale para o post, para já, é só o Introitus. Mas eu compreendo que oiçam o resto, John Eliot Gardiner não se pode deixar a meio, é demasiado bom.