sábado, 13 de novembro de 2010

Tangente

Por escrever.

Tangente

Passas-me rente, aqui passas, aqui não és nem sou.
Mulher-a-dias que és e que olhou
As pratas que não tinha limpo na semana passada.
Tange-te a vontade como a preguiça que evitas
Mulher que limpas tanto quanto vomitas
Canções populares numa harmonia desusada.

Crocitas, enquanto limpas, as terríveis coisas
Que tua patroa faz, senhora nossa.
(Que ninguém saiba, nem o menino Alberto,
Que fará mossa maior que o brasão familiar
Marcando o lacre vermelho que fecha os segredos)
Mulher má! A ti te tangem todos os trâmites
Que são o limpar o pó das pratas e o puxar o brilho fundo
Que está lá, mas escondido, imóvel, sitibundo
De atenção e de carinho de tua mão despassarada.

Mulher, as coisas que te não tangem não são nada
Senão as coisas que são, se tu fosses quem querias.
Mas tu não és, vives disto, deste limpar descuidado
Desta vida imunda de mulher-a-dias.
Só porque te não dás, nos dias em que duram os dias,
A ser mulher,
só mulher.
Rafael Cardoso Oliveira

Citação de misérrima importância:

"Navegar é preciso; viver não é preciso."
Pompeu

"Surprise, you fool!"
The Spy