terça-feira, 30 de junho de 2009

Dies Irae!

Nesta onda de Requiem vamos alterar um pouco as coisas. É este o dia em que este blogue deixa o preto, só porque a legibilidade reduzida até a mim me começa a incomodar. E, como não me quero incomodar em alterar todos os post em que disse que isto era 'branco no preto' ou em que fiz qualquer referência encapuzada ao negrume de breu deste lugar, vem o início deste post nessa linha de justificar esta minha suma decisão. Quanto a isto, é tudo.

Continuando a procissão, a missa, ou o que queiram chamar-lhe vem o Dies Irae, que traduzido à letra quer dizer 'Dia de raiva/fúria'. Como podem ver isto faz todo o sentido: O pontífice deste lugar, leia-se eu, num momento de inexplicável fúria resolve mudar os tons, d'um ponto de vista meramente cromático, deste sitio. Quanto a isto há duas coisas a dizer:

1. Era uma perspectiva engraçada e quiçá até bonita, mas que não é de modo algum verdade, era uma associação de ideias muito forçada.

2. Esta mudança de cor é como maquilhar uma mulher feia ou, pior ainda, um qualquer dragqueen que se veste de Liza Minelli aos sábados à noite; isto é, por mais voltas que eu (ou vocês) dê a este lugar isto será sempre a mesma coisa, agradável a uns, desagradável a outros e é nisso que isto ganha alguma vida.

2'. Conhecem, por certo, aquela ilusão de óptica em que há umas quantas linhas cinzentas interseccionando-se sempre perpendicularmente, como um quadriculado, num fundo preto, com pontos brancos em cada uma das intersecções. O efeito perturbador de ver esses pontos brancos transformarem-se em pretos dá-se em blogues de 'branco no preto', o que me estava a perturbar um pouco. Daí a mudança.

Agora à verdadeira relação do Dies Irae com tudo o resto: o Blogue que dá pelo nome de Rascunhos. Sim, Miguel, é culpa tua. Vendo o teu post lembrei-me de um Poema que escrevi há uns tempos e resolvi finalmente apresentá-lo ao mundo. Assim são dois blogues com posts concomitantes em relação a uma perspectiva interessante. É giro diria mesmo. Sem mais delongas aqui vai o poema:

Soneto Forte

Martiriza, por que Mavorte seja máximo, Vulcano o ferro quente,
Igniza, o grão ferreiro, a espada da sorte morta, lâmina direita e torta
Que desce por sobre o céu de sangue e o decepando cega a gente
Dobrada ante não a luz, mas a força cheia que’o negro ar corta.

É a gente fraca, a espada é torta, o dia escorre por entre os dedos mortais,
Marca-se cada porta de vermelho medo, sob o jugo celeste, por t(r)emor frio,
Fosco frio, que é connosco, e fraca força, que nos sobra e nos torna tais
Que tudo por nós é grande, forte demais, um nosso calcanhar fora de um rio…

Sem força, submissos perante o último filho do tempo imortal não devorado(,)
Sem esforço, que tudo nos é mais que o suportado, vibram raios perto dos ouvidos,
Somos petrificados de terror, pueris neste pudor de recear tudo o que mais é [fortificado.

Ah mortais do mundo! Soltai-vos das amarras, sede fortes, tende sede de dias subidos,
Negai os futuros dias dobrados e os dias idos e contados da pocilga do Passado,
Troai na terra e vê-los-eis no firmamento grande, tão de brilhos carregado(s), [genuflectidos!

Rafael Cardoso Oliveira

Citações de Fúria:

"I know it was you Fredo. You broke my heart...you broke my heart."
Michael Corleone, The Godfather part II

"Rorschach's Journal. October 12th, 1985: Dog carcass in alley this morning, tire tread on burst stomach. This city is afraid of me. I have seen its true face. The streets are extended gutters and the gutters are full of blood and when the drains finally scab over, all the vermin will drown. The accumulated filth of all their sex and murder will foam up about their waists and all the whores and politicians will look up and shout "Save us!"... and I'll whisper "no."
Rorschach, Watchmen

"Hahahaha...You have nothing to threaten me with. Nothing to do with all your strength."
The Joker, The Dark Knight

Let her go...


Sai a procissão do adro!

sábado, 20 de junho de 2009

Introitus

Nada há como os começos auspiciosos...


(o leitor aborda agora o texto ao som da música, tomando toda a cena uma carga dramática transcendental, profunda. Deve estar de costas para o público, para o mundo em geral, sem mostras de hesitação ou excitação como que o rejeitando; assim lê)

E ainda que muito se deva, neste caso concreto, a um génio que é hoje comummente aceite e aclamado, não menos se deve à expectativa que se cria quando há algo que, pelos melhores motivos, nos desperta a curiosidade (é conveniente que o leitor se aperceba de que "E ainda..." vem na continuidade da primeira frase escrita neste post e não cai ali de para-quedas, ou , pior até, sem ele; caso não o perceba é também conveniente que finja que percebe, aqui não há canastrões!). É isto que este post vem a ser (além de naturalmente tardio para vós, sendo que, em verdade, nunca tarda porque eu não prometo nada em termos da publicação assídua de posts por estar plenamente ciente da minha incapacidade para cumprir prazos e, ainda por cima, cumprir prazos em algo que faço por meu próprio, e sádico, gosto é algo que transcende as minhas normas neste local).

Admirem, também, o meu talento de escrever orações mais complexas dentro de parêntesis do que as que realmente interessam e que, como tal, estão fora deles. Espero que ainda estejam a ouvir a música, se assim não for recomendo que recomecem, o tom dramático de um requiem ajuda sempre: se estamos contentes é porque é bonito, se estamos tristes é porque é de uma nobreza inigualável, se o não soubermos apreciar, das duas uma: ou somos vítimas da ostracização musical que a sociedade impõe, admitamos que inadvertidamente, porque não vê a música como uma matemática aplicada (por exemplo) ou então estamos de barriga para o ar, mais bonitos do que alguma vez estivemos, rodeados de variados renques de flores e um coro de carpideiras se quisermos por as coisas em termos chãos. Não fosse o facto do rigor mortis o exigir e esta chalaça seria toda ela feita em termos menos metafóricos.

Se ainda não deram conta, este post destina-se unicamente a ser uma introdução, um prefácio, uma aurora para um esplendoroso amanhecer. Ou assim seria, se este sitio tivesse algo de esplendoroso...Mas não vos quero enganar, hoje os termos são simples, são latos, são baratos. Amanhã segue-se a marcha, não especialmente de morte, nem de vida, é só uma marcha cujo ritmo se marca hoje.Hoje há como que um luto de palavras. Silêncio.

Hoje não se diz nada.

Citação de eterno descanso:

Requiem aeternam dona ets, Domine,
et lux perpetua luceat ets.
Te decet hymnus, Deus, in Sion,
et tibi reddetur votum in Jerusalem.
Exaudi orationem meam,
ad te omnis caro veniet.
Requiem aeternam dona ets, Domine,
et lux perpetua luceat ets.

"I think not!"

Nota: Uma versão melhor do Introitus inclui também o "andamento" (parte da missa de requiem) seguinte no link que forneci (Kyrie Eleison), quem quiser ouvir, faça-o, sendo que está tudo no mesmo vídeo. Mas o que vale para o post, para já, é só o Introitus. Mas eu compreendo que oiçam o resto, John Eliot Gardiner não se pode deixar a meio, é demasiado bom.