terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Papel Quadriculado

Visitantes,

Dividamo-nos!

Aos que, de vós, aqui estão contra a vossa vontade por um clique impróprio/acidental numa qualquer página da maré virtual, apelo-vos que saiam sem comentários de maior e à socapa, que não serão notados.
Aos de vós que devotam tempo e paciência a ler o que escrevo, desenganem-se quanto ao interesse que este post poderá ter, porque, hoje, vos brindarei com um dos poemas mais deprimentes que tenho feito, porque não tenho feito muitos.
Finalmente, e atendendo aos meus tão queridos e famigerados diagramas de Venn, aos de vós que estão na intersecção entre os dois grupos e que, aqui chegados, vão ficar por alguns minutos, o meu muito bom dia/tarde/noite.
Venho, passado longo tempo, escrever-vos quase por saudades; desse modo, desculpar-me-ão (porque vos obrigo a tal) a qualidade fraquíssima do poema que se avizinha. Este seria um daqueles poemas que não partilho à partida, isto porque diz tudo o que não devia dizer, em tempos incertos, em métricas doentes, num frenesim de coisas que qualquer análise que se lhe possa fazer é tolice. Mas, tendo em conta que nunca publiquei uma dessas pérolas, aqui vai disto. Espero que se divirtam a lê-lo e apontem todas as suas falhas gramaticais, morfológicas e ideológicas; isto porque eu o não revi além de uma vez, no terminus da sua escrita, o que nem sequer conta como rever. Têm então aqui, adorados e esperançados terráqueos, o meu nado morto de poesia. Passar bem.

Papel Quadriculado

Hoje escrevo-vos como me escrevo:

Insciente.


Hoje, insidiosamente, voltarei ao mundo da cavalaria.

Pois é, ao mundo dela, ao mundo certo da tão bela

Tão charmant e tão charmosa, tão docemente dolorosa

Poesia.


Retorno a este mundo como quem come uma empada fria

Que ninguém esqueceu (se sua era) a não ser eu.

Volto à poesia como quem volta à matemática,

Aos limites e aos números de imaginação e complexos.

Nessa recordação vazia de nexos em ecos que não são.


Hoje relembrar-me-ei de como se resolvem as inequações

E da importância vital que lhes nunca conferi, não sei porquê.

A poesia só tem mais vinte e poucas letras que uma inequação,

E nela se lê, também, o significado oculto de cada uma delas,

Nas linhas e nas formas em que resolveram dispor-se.


Hoje o processador de texto é-me demasiado lento e pesaroso,

Hoje preciso de papel e tinta, muita tinta, p’ra que me engane!

P’ra que me engasgue enquanto escrevo e rabisque todo o quadro branco

De muitas cores, ainda que só veja preto.


É preciso ir muito além dos meios centímetros das quadriculas,

É preciso não rimar especialmente, mas somente quando a rima vier.

É preciso esculpir com a chuva e a terra as coisas de que me esqueci…

Preciso de ser um menino outra vez, pelo menos aqui,

Ao menos aqui.


Hoje me assomam impaciências várias, perturbações várias.

Da matemática quadrada das coisas que eu nem sequer quero perceber.

E hoje me escapa a percepção bonita do mundo, das cousas que são coisas

E das coisas que nunca foram cousas só porque cousas é um termo ridículo.

Escapa-me o detalhe que permite fazer poemas brilhantes.

E preciso de ter mais velocidade a escrever,

Que as ideias hoje não param de surgir e desaparecer

De ir

De vir

De ir

De vir

De morrer em mim como flores secas em livros decadentes,

Flores secas em bíblias por padres pedófilos…

Na hipocrisia de quem diz saber (, de) quem faz crer,

E não é nada senão a farsa que o tomam ser

(Queria ter, nisto, um qualquer poder eidético)


Sou eu hoje isso:

Um asno poético. PUM!


Rafael Cardoso Oliveira

Citação de Saudade:

"Dizes que sou chato e rezingão,

Se digo sim, tu dizes não

Como é que te vou convencer

Que às vezes também podes

Ter razão."

Jorge Palma

"I'm done playin' games with you, junior..."

The Engineer