segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Champô e Amaciador/Detergente e Amaciador

Caríssimos, como eu gosto disto! Ai vírgula ai vírgula ai vírgula como eu gosto disto ponto de exclamação Aliás gosto tanto disto que resolvi postar mais um poema, por certo conhecem os packs de champô e amaciador ou detergente e amaciador, não é assim? Pois bem, tomem este poema como o amaciador. E, como bom amaciador, a dosagem é pequena e só deve ser aplicada após a aplicação do produto principal; o mesmo será dizer que lá porque me lembrei de fazer mais este post hoje isso não quer dizer que o outro deva ser ignorado. E, se bem se lembram, este regime ditatorial dita que as minhas recomendações sejam palavra divina, mais que leis até, por aqui. Eu sei que a democracia é gira, mas num blogue cujo único membro sou eu, seria hipócrita ter um regime democrático não é assim? "Está claro isto?" (parafraseando Sr.ª Professora Dulce Madeira, excelsa regente de Anatomia). E como isto para amaciador já vai muito concentrado só queria fazer uma última consideração que agora me surgiu:

Porque é que o amaciador do cabelo e da roupa têm o mesmo nome?

Pode parecer um problema trivial mas dá que pensar. Senão vejamos o exemplo que muitas vezes se usa como comparação no mundo dos champôs, cabelos, estética e cosmética que é : se a artéria axilar ao passar o bordo inferior do músculo redondo maior muda de nome para artéria braquial sendo que é EXACTAMENTE a MESMA estrutura mas pela designada e célebre "paneleiris nominae anatomicae" como muda de sítio muda de nome, então porque raio é que dois produtos cuja embalagem, função, cor, textura é completamente diferente têm de ser designados simplesmente de amaciador?

Como podem ver, do ponto de vista anatómico, isto não faz qualquer sentido. E que ninguém me venha dizer que chama "amaciador de cabelo" ao amaciador ou "amaciador de roupa" ao amaciador. Sim, porque isto causa confusão e poderá gerar atritos futuros. Deixem só que eu chegue à gerência de um Pingo Doce e verão que maroteiras eu faço com embalagens de champô e amaciador. Vai ser ver as senhoras a levar Garnier e Amaciador Feno de Portugal e eu a rir-me cruel e desalmadamente (p'ra quem não sabe Feno de Portugal é uma aclamada marca de sabonete, que suponho não ter amaciador, mas isto é uma ditadura portanto a supracitada marca passa a ter temporariamente amaciador para efeitos logísticos).

Isto p'ra amaciador já vai longo, como já disse há cerca de 349 palavras e um café atrás, aqui vai o poema então:

Poema a Tinta Permanente


É bom passarem quarenta e dois minutos do meio do dia.

Não porque haja algo de especial nisso, nem haveria

Mesmo que eu o inventasse agora. É boa a precisão do tempo,

O saber que cada hora não é nova, nem o seria

Mesmo que o conceito de hora tivesse sido inventado agora.


E o tempo demora, demora e não vai melhor embora

Por eu falar mais nele ou lhe tecer elogios rasgados.

Os minutos passam contados, em segundos tique-taqueados

Aos meus ouvidos… uma e outra vez e outra vez e outra vez!…

Tenho os olhos surdos de fixar ponteiros e os ouvidos gastos e [cansados!


São agora quarenta e três…


Rafael Cardoso Oliveira


Citação complementar:


"Now you're looking for the secret.
But you won’t find it because of course, you're not really looking.

You don't really want to know.


You want to be fooled."
Cutter, The Prestige (Cutter:Michael Caine, filme de Christopher Nolan)


AVISO: Ver Post Principal do Dia. Que está abaixo deste por sinal.

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Vitae

Após longa e valorosa, diga-se também, ausência este post marca o regresso da vida a este blogue. Então nada melhor do que um poema sobre isso, ou quase sobre isso. Não há muito para dizer de resto, o Barack Obama foi eleito e o mundo mudou mas ainda não mudou o suficiente para que houvesse uma inspiração de prosa por estes lados. Não, aqui é só (ou quase só) forja de versos e já é chato que chegue.

Aqui vai:

Vitae

Há um tédio aterrador e opressivo

E uma força brusca de inspiração indizível

Que leva a escrever mesmo sem motivo,

Ainda que nada que aqui se escreva seja crível,

Aprazível ou mesmo vivo.


O problema é a concentração de tédio sobrenatural

Que não se move a favor do homónimo gradiente,

Que tudo aqui é funcional, enérgico e certo e minimal

Sem que isso diga algo além do aparente.

Aqui não há segredos, nem lendas fenomenais…

Não se pode inventar além da imaginação contada,

Contável, enclausurada e matematizada e (mate)matizável

A níveis incríveis… por paranormais.


E a metafísica disto é nula, não há nada que viva realmente,

Em nada disto há senão um tédio dormente e dolente,

Que docemente nos consome a todos. Está tudo a dormir e,

[dormindo,

Lá fora há sol a rodos e chuva zunindo e um dia tão diferente.


E pensar que a química vital não é a química da vida…

(nem o docente)

Rafael Cardoso Oliveira


Citação Vital:


"Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É o que eu me sonhei que eterno dura

É Esse que regressarei."

F. Pessoa, Mensagem



Da capo al fine


X


sábado, 9 de agosto de 2008

O melhor poema de sempre

Bem, após mais um mês de ausência, estou de volta, primando, como se vê, pela humildade e falta de auto-estima. Penso que o título do post é esclarecedor o suficiente e, além disso, não me apetece falar muito. Vamos à acção!

O melhor poema de sempre

Pensar-se poderia que seria aqui, neste lugar,
Que se cantaria por formas perfeitas o a-cantar.
Talvez sim, senhores, talvez não, que também canções
Malfeitas, horríveis e d’horrores d’homens sem coração
Podem ser versos - nunca prosas -, belos versos d’arrepiar.

Seria então este papel pintado tudo menos vulgar,
Demasiado bom e sério, com os ouros do império e o brilhar
Do impropério em boca de mulher, tão mais delicada
Que o homem em que a poesia não é nada, nem os brilhos são.

São senão mentiras que ele diz sem fé nem prova e que ela,
Pobre tola, adora e renova a cada pulo mais vermelho do coração.
Também este poema é isso: uma mentira, um embuste e uma arma,
Uma tira de seda com que se vendam os olhos, um fármaco de ruindade
E escuridão. Uma aldrabice de um mau aldrabão.

E, como se disse, não sendo este o mais eloquente dos versos escritos,
Nem desses a sua mais brilhante composição, este pedaço de verbos malditos
E de substantivos adjectivados sem razão é o melhor poema e o mais possante,
Não por sê-lo em verdade mas por de impressionante só ter o excesso
De vaidade.

Mas há coisas tão mais vãs, tão mais cheias de maldade, que isto aqui,
Na sua louca prepotência e carência de humildade é bonito até…
É o meu grito de poeta frustrado, de homem ultrapassado
E sem coisas nem verdades novas, sem ideias nem novidades,
Sem novos bens ou novas maldades ou outras coisas que a poesia não tem,
São estes os versos malfeitos, horríveis e d’horrores d’homem apaixonado,
Como prosas esquecíveis e, nisso, incapazes d’arrepiar alguém.


Rafael Cardoso Oliveira


Melhor citação:

"Jules: Wanna know what I'm buyin' Ringo?

Pumpkin: What?

Jules: Your life. I'm givin' you that money so I don't hafta kill your ass. You read the Bible?

Pumpkin: Not regularly.

Jules: There's a passage I got memorized. Ezekiel 25:17. The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of the darkness. For he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know I am the Lord when I lay my vengeance upon you. I been sayin' that shit for years. And if you ever heard it, it meant your ass. I never really questioned what it meant. I thought it was just a cold-blooded thing to say to a motherfucker before you popped a cap in his ass. But I saw some shit this mornin' made me think twice. Now I'm thinkin': it could mean you're the evil man. And I'm the righteous man. And Mr. 9mm here, he's the shepherd protecting my righteous ass in the valley of darkness. Or it could be you're the righteous man and I'm the shepherd and it's the world that's evil and selfish. I'd like that. But that shit ain't the truth. The truth is you're the weak. And I'm the tyranny of evil men. But I'm tryin', Ringo. I'm tryin' real hard to be the shepherd."


Jules - Samuel L.Jackson
Pumpkin/Ringo - Tim Roth
Pulp Fiction de Quentin Tarantino (escritor e director).

Over n'out

domingo, 6 de julho de 2008

Musa Inspiradora

Em momentos desinspirados escrevem-se coisas destas. A temática sempre é mais agradável, para os mais sensíveis. Para mim é-me indiferente, são cinco da madrugada, tenho mais em que pensar.

Musa Inspiradora

É hoje o dia de escrever à dos cândidos cabelos,

Dos olhos fundos, da boca encarnada e elegante,

À dos dedos longos, tez firme e mui brilhante

Que, quando no chão, apoiada nos cotovelos,

Balança os pés, encaracola mais os cabelos

E escreve poesia forte e fulminante.


Em sua alta pose de escritora é tão constante

A harmonia que exala dos seus magnos dedos,

A forma como breves deslizam pela folha

Desvelando esses sexuais segredos

De medos, de ousadias, de rituais, presos

Nessa bolha de sabão que são os sonhos,

Que são as vidas, que é luz

E a escuridão.


Tamanhos são seus olhos, tamanhos são,

Que minha mão quando se por eles vê observada

Não diz nada, cala a palavra e a inspiração

Expira-se e não volta mais.


Tais são os seus odores, são tais

Que me volta a inspiração em sonhos sensuais

Ou desejos que o homem em mim suplica.

Mas essa sede não se sacia de águas carnais

Antes de palavras em papel que o corpo não explica.


O corpo não quer saber da minha musa

Nem sequer o homem em mim,

Sou eu quem a mim se acusa

De, no fim, não ser só as minha ideias.


Só as minhas ideias são a minha musa…


(Di-las-ei feias?)


Rafael Cardoso Oliveira



Citação Inspiradora:

"Viver não é necessário, o que é necessário é criar."

F.Pessoa


--Ocorreu um erro e esta página deverá ser fechada imediatamente, tanto você como o bloguer já perderam tempo demais nisto--
--A Microsoft adverte que exposição prolongada a este tipo de blogue não é saudável--

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Perto

Sem muito a dizer. Mais um poema:

Perto

Não sentes uma música no fundo dos ouvidos,
Um torpor leve dos sentidos como que letargia
Fatal de um sono breve? Ouves, por certo, cânticos batidos,
Hinos a patriotas subidos e a vilões sem escrúpulos,
Os primeiros longe, os outros demasiado perto.

Há um cheiro carmesim, um cheiro fétido e antinatural,
Que, a mim, me queda desperto. E a ti? Não te diz nada?
Parece fedor de mortal morto que coberto vem de visceral
Liquido acre e frio e de uma pasta de verde vomitada.

Consegues ver? Sinto os meus olhos selados. E os teus?
De quantas maravilhas te deu Deus não era a que mais prezavas?
Os olhos com que olhando não olhavas, nem perscrutavas
Nada.

A boca seca que tens, de quem não entende a língua que fala,
Parece vazia hoje, ao contrário de cada dia em que se enchia
Das comidas do mundo e das maiores imundícies e baboseiras
Que, vomitante, dizia, (agora cala), cobrindo coisas verdadeiras
De uma doença qualquer, uma atrofia.

Tacteio o teu corpo e o sinto todo vulgar,
Cada pedaço meio desfeito mas tudo no seu lugar,
Tudo por ordem, tudo ajustado na milimétrica escala
Da podridão que assedia e empalha e empala
Todos quantos se dão a este gentil vivenciar!
É teu o som amaldiçoado!
É teu o cheiro apodrecido!
São teus os olhos externos!
É tua a boca vazia!
São minhas as mãos e tua vida em que nada ia!

Sê bem-vindo à Porta dos Infernos!

Rafael Cardoso Oliveira


Citação profunda:
"Diabo: Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!

Frade: Pera onde levais gente?

Diabo: Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.

Frade: Juro a Deos que nom t'entendo
E este hábito no me vale?

Diabo: Gentil padre mundanal
A Berzabu vos encomendo."
Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente


Citação só de memória não querendo com isso os louros de uma memória boa mas sim os descontos, de parte dos caríssimos leitores, por qualquer erro (à data do post isto era verdade, agora só é mentira porque já conferi e corrigi todos os erros, que eram só 2). Digam o que vos aprouver e reclamem o que entenderem.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Para não deixar em preto

Bom, hoje, neste post, neste momento, neste dia 27 de Maio do ano da graça de 2008, eu, Rafael, autor deste blogue, resolvi fazer uma prosa. Sim senhor, uma prosa, mas uma especial: em primeiro lugar será curta e em segundo não dirá nada que se aproveite.

A verdade, cá para nós, é que o problema está em eu escrever muito. Eu sei. Eu canso e, cansando, canso-me também. Eu frustro e, frustrando, sinto-me frustrado também. Por isso, hoje, e apenas hoje, se fará aqui um texto que a mim me não diz nada e que vai contra todas as normas de conduta que eu criei para este local. Se o engenheiro pode fumar e apenas fretou o avião, é mais que óbvio que eu, que sou dono e criador absoluto disto, posso subverter as regras. Eu aqui sou a voz do além. Não têm vocês a noção do que isso me agrada.

Acabei de decidir que este texto será uma reflexão sobre o trabalho efectuado até agora neste blogue. Duas palavras: Muito pouco. Entrego muito pouco do meu tempo a isto, muito pouca da minha paciência e do meu ser. Disto tiro algum prazer, é verdade, não o nego, mas há aqui mais frustração que qualquer outra emoção.

O que me leva a não desistir destas, chamemos-lhe, com a devida benevolência pelo calão, "vidas", é o respeito pelo que eu faço. O meu propósito não é nobre, os meus poemas são só palavras e os meus textos nada têm de artistico ou especial, é verdade, mas, penso eu, isto é o melhor de mim, da minha invasão e percepção do mundo. Só o partilho porque considero que o devo partilhar, ainda que possa ser apenas comigo e com meia dúzia de gatos pingados que até acham graça a isto.

Mas, vem agora a verdade, o que se quer mesmo é que alguém desconhecido odeie ou ame este lugar. Pode parecer estranho, mas, por estes dias, quero que quem não devia ter nada a dizer sobre este blogue se manifeste. Isso sim seria a prova de que não estou aqui sozinho.

Citação de última hora:
"Are you watching closely?"
The Prestige

Considerando o seu monitor um plano de Argand, com a origem O no seu centro, desloque o seu cursor no sentido do vector Z2+Z1, sendo Z2=2+2i e Z1=1+i, até à cor.

Se ainda aqui está é sinal que ou não domina os números complexos, ou ainda pensa que vou dizer alguma coisa que se aproveite. Não, o prometido é devido.

domingo, 18 de maio de 2008

Nem um dia sem uma linha

Palavras p'ra quê? (expressão perfeitamente incongruente neste contexto e no que se segue). Aqui vai:

Nem um dia sem uma linha

Vem a mão contrariada ao funesto encontro
Com a morte disfarçada em papel branco e claro,
Que tudo se compõe para que haja inspiração
E há um ar raro, uma magia qualquer e sedução.
Mas dói cada tendão, o corpo todo, a maquinaria,
A mão contrai-se, remete-se ao silêncio, foge…
Hoje não é dia de poesia.

O universo está parado e aborrecido, e as leis
Da física e da metafísica são todas matemáticas iguais,
Não se mataram crianças para não morrerem reis
Nem se atentou contra coisas mais mortais.
O dia fulvo está absolutamente adormecido
Calculado ao ponto de dor e de dor nenhuma,
Se há quem leia isto, veja o mundo, e não tenha morrido,
Então, por certo, é tão morto que morte alguma o quereria.

Veja-se a merda de tudo isto, senhores, e dela a escassez.
Ainda me lê? “Hoje estamos fechados, é segunda quinta-feira do mês.
E Hoje não é dia de poesia.”

Rafael Cardoso Oliveira


Citação do dia:
"Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida,
Não fosse senão poesia?
- Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia."
Álvaro de Campos (a.k.a. Fernando Pessoa)

C'est tout!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Fora

Já que a sensibilidade de um fere a sensibilidade de muita gente e, por razões sensíveis, não podem ser publicados versos (ou muito tardam em sê-lo), far-se-á aqui a publicação. Não tem este poema o intuito de ofender ninguém, ou não teria intuito algum (releia-se a frase se não apreendida numa primeira leitura). Vamos ao que interessa:

Fora

A carne engana a luz, dissolve a sombra, oculta a escuridão,
Priva os veros olhos de encontrarem na pilha de excremento
Algo que brilhe, que valha a morte, algo mais que a podridão
Reverberante em cada traço do corpo, em cada movimento.
Embebedam-se os sentidos com vinhos estragados e usados
Nega-se o eu, vomita-se o eu, é-se consoante os aceitados
Cadáveres estuporados que pendurados vão nas bancadas…
Inconsciente e cega a noite espreita: os corpos suam de temor,
Acende-se um cheiro frio de varejas comendo carnes mastigadas.

Frio gélido de horror de cada um; os mortos andam e fingem as vidas,
Erebus mostra as faces ensanguentadas, o rosto amaldiçoado,
A morte vem, alimentada deles, verte-se a alma p’las f’ridas

Corvos banqueteiam-se das cabeças caídas,
O pó é sangue, é de sangue a estrada,
Estou cansado…

Rafael Cardoso Oliveira

Citação de força:
"If you want my strength, you must pay the price"
Yojimbo, FFX

Ao xis branco em rubro fundo!

sábado, 19 de abril de 2008

Poética Perversão

Poética Perversão

Eu sou de rimas perversas, de vozes perversas.

Escuto atentamente os sussurros nocturnos que amedrontam
O mundo e os seus diurnos habitantes: as pessoas, nas diversas
Vidas que levam, que arrastam, que, ofegantes, têm de cumprir…

Há um sorriso amarelado quando o ar gelado corta por entre os ramos
Do arvoredo sinistro, abandonado(,) na noite sem luz alguma, e eu,
No meio daquela bruma, daquela chuva, abro os olhos. Volto a abrir…

E nada. Nada além da espuma que sai das mandíbulas de cães raivosos
Que o negrume ferem com olhos avermelhados, dentes venenosos,
A força bruta da musculatura própria do medo e da indefinição.

Também os meus olhos são vermelhos de escuridão,
E há alturas de medo, mas é meu, hoje, o sorriso estranho,
Há dias de medo, hoje não, poética perversão…

Hoje eu ganho.

Rafael Cardoso Oliveira

Citação estranha:
"Now it's the time to choose,
DIE and be free of pain,
or LIVE and fight your sorrow"
Auron, FFX

Tidus: I'm sorry I couldn't show you Zanarkand.

X

terça-feira, 8 de abril de 2008

hi5

Caríssimos e pacientes leitores,

Há, neste mundo, muita coisa errada. Não é isto novidade p'ra ninguém, mas convém que se diga para que não se pense que se tecem as seguintes críticas porque não havia mais nada para criticar. Não, senhoras e senhores, não de todo, já que é sabido que a estupidez é o unico recurso não renovável que é ao mesmo tempo inesgotável e ainda p'ra mais muitíssimo bem distribuido à escala mundial. Quanto ao ser não renovável, posso conceder espaço aqui mesmo a alguma discussão sobre a matéria, ficando, porém, desde já uma nota prévia: a estupidez não se renova a uma escala comparável a da vida humana, ela não se renova de todo, porque se ser-se estúpido não é algo de original, a arte de estupidificar as acções tende a ser um poço sem fundo, em termos de originalidade e em quaisquer outros. Em termos matemáticos é uma função exponencial que tende, por condiçao, para o infinito (positivo no caso).

Mas, até aqui, nada disse de novidade.

E agora vou contrariar a régia lei deste blog: "Não dizer nada pessoal sobre mim" - redundância bem empregue uma vez que tudo aqui é pessoal, o que interessa é o sobre mim. Tudo eu, mas nada sobre o eu.

A minha irmã tem hi5. Os meus amigos têm hi5's. Os desconhecidos têm hi5's. O mundo em geral tem hi5. E eu, e alguns saudosos resistentes, não. Agora eu pergunto: Qual é o propósito do hi5? R: Mostrar às pessoas, amigos ou desconhecidos fotos do nosso corpitxo e informar sobre os nossos gostos de música, literatura, comida, passatempos (desprezo os hobbies), e coisas que gostamos de fazer. " 'Pera lá Rafael, em que é que isto não faz sentido?"

Para os desconhecidos: gente a quem pouco ou nada interessa os meus livros (se os há, raros casos) ou a minha comida, bebida, posição sexual, marca de corta-unhas, creme de barbear preferidos. Isso pode nem interessar aos meus amigos, quanto mais a pessoas que me desconhecem. Mas há sempre as fotos, e valham as fotos, que os olhos se regalam com muito pouco, apesar o cérebro exigir mais que ver caras e pessoas (pelo menos o do Homo Sapiens Sapiens um tudo-nada desenvolvido). O porquê das fotos: pouco texto e muita acção, é o que baste. Não precisa de haver textos sobre as pessoas, nem das pessoas, as fotos é que é! Não dão trabalho e, não gostando, há sempre outras. Há-as no quarto de banho, na cozinha, na sala de estar, na discoteca, no bar, na casa da tia e do primo, em férias, há-as em todo o lado (nota: verificar a conjugação do verbo haver e verificar que há-as é correcto, para quem não sabe). Fiquemo-nos por aqui... por agora.

"Mas repara Rafa, eu tenho uma coisa no hi5 que só permite que os meus amigos o vejam"

Para os amigos: aqui sim está o descabimento completo, p'ra quê, afinal, os meus amigos precisam de aceder ao meu hi5 para saber qual é o meu peixe grelhado predilecto? As pessoas falam, e se alguém realmente se interessasse sobre o assunto do peixe grelhado, ter-mo-ia perguntado uma vez mais, directamente (ou por um qualquer outro meio que não involva consultar uma espécie de ficha de resumo do que EU sou). Mais uma vez as fotos, e valham as fotos, que os olhos, uma vez mais, se regalam com elas, mas o cérebro não (ou pelo menos o meu). Ainda assim, as fotos não têm, para os amigos, utilidade nenhuma, senão vejamos:

- A maioria são tiradas no mesmo cenário com riqueza luminotécnica variável bem como perspectivas várias - um naco de carne (feio ou bonito) visto a diferentes luzes, não satisfaz;

- A maior parte delas não revelam nada que algum amigo, que se preze nesse cargo, não saiba ou não deva saber - os amigos conhecem os nossos desportos favoritos, onde fomos de férias e algumas das coisas pelas quais nos interessamos, não satisfaz.

- Também aos macacos se dão fotos de pessoas a ver, sendo-lhes pedido que identifiquem a cara, se já a viram, ou façam algum tipo de correspondência simples. Consoante a escolha deles recebem, ou não, amendoins. Faltam os amendoins, não satisfaz.

Entre amigos e desconhecidos, o hi5 serve melhor os desconhecidos realmente. É um sítio, para a maioria (para a massa), de engate, o interesse é muitíssimo reduzido para amigos mas, por via das facilidades, é um meio óptimo de passar tempo.

Não sei se é deficiência ou eficiência da minha parte, mas eu sinto-me mais complexo do que os meus livros favoritos, comida, bebida, filmes, gostos no geral. E, sem dúvida, muito mais complexo que as fotos! O hi5 serve como uma espécie de ficha rápida p'ra se ver se a pessoal é "baril" daí em diante começa o relacionamento, seja por que forma for. É comparavelmente tão interessante como ler curriculums vitae, ou testes psico-técnicos, mas eu nunca ouvi ninguém dizer que isso era giro, sendo ponto assente que o hi5 é giro.

Além disso o hi5 é fantástico pois tudo o que sejam comentários, são sempre positivos... não, minto, são sempre "fofinhos". Todos os utilizadores são pessoas fantásticas, o que me leva a crer que Satanás deve andar danado, que esta terra só tem gente boa. Além disto, são todos lindos e lindas (gatos e gatas), quanto a isto nada, eu pessoalmente só me dou com gente loira de olhos verdes, mas que intelectualmente possui o QI de uma maçã, excluindo a minhoca, com naturalidade.


Eu desci ao inferno senhores, fui pesquisar em hi5's com a companhia da minha irmã.
Podem encontrar-se coisas deste género:

"Fos-te DESILUSÃO ."
"Acabas-te de MORRER"
"Conheçes-o "
Lá que o português morreu, a par do cérebro, morreu. Fos-te? Depois claro, sai o fos-te-te ou o acabas-te-te. Conheçes já é bom, mas conheçes-o é ainda melhor, e repare-se na destreza mental deste neandertal: Conhece-lo? Não, tu no máximo conheçes-o.

"Localidade
Estambul, Turquia "
Estambul... alto lá que ainda não falamos castelhano, sorte deste iluminado que meio mundo pensa que Portugal é província espanhola.

"Esquesito, para quem te atura todos os dias, estas muito santinho"
Estranho p'rá próxima, não tem erro. (Note-se que este exemplar sabe usar apostos, há que aplaudir)

Livros preferidos: "que' isso? " - sem crítica a quem não gosta de ler, só, por este factor, não me espantam os erros crassos encontrados a cada linha e que acima se disseram.

Estou cansado de escrever...
que se canse agora quem lê,

Citações:

"Eu não sou quem tu desejas
Eu não sou aquele que beijas
Sou um mero pesadelo
ou fantasia..."
Jorge Palma

quarta-feira, 12 de março de 2008

Soneto Aparente

Há dedicatórias a ser feitas, senhoras e senhores, há motivos para o canto,
Há morte em tudo, há em tudo este choro desfeito e cheiro a podridão,
E por isso se devem dobrar os versos na força, na inteligência, na agressão,
Por que não se note neles a pena, o vómito das futilidades, o desencanto…

Há que, nesta simplicidade avorrecida, centenária e esbatida que alevanto,
Fazer soar o som da guerra e o som que arrepie as almas e as faça tremer,
Vejo tudo envolto em aparências, sem integridade, em mentiras p’ra parecer
Bem, por ser mais forte no seu fumo, ser mais que o NADA QUE se É sob esse manto!

Eu já não posso, é isto que me mata no mundo, a beleza das palavras que todos invocam
Mas que quase ninguém vive, ninguém aplica, que todos esquecem ou deixam passar,
A esses, presos nas formas, presos ao que não são mas lhes foi dado, nunca os deuses [tocam.

Não seria tudo mais certo se assumissem o seu eu como o que querem, tanto, aparentar?
Não se aguenta o fedor dessa gente, as suas existências linearmente podres que provocam
O meu nojo! É este mundo, que vejo adorado e adulado, que me faz, mais que tudo, [vomitar!

Regurgitar as vísceras de mim! Eu QUERO que a complexidade se note, que este [extravasar
Abafe o canto das sereias tão mais belo e tão mais perdido e sitibundo, sequioso desse ar
De aparências que (se) consomem, pelo parecer volúvel de metade de meio Homem.
Só quero, senhoras e senhores, negar….e negar-me ao pão de fome que estes comem!

Rafael Cardoso Oliveira


Citação crítica:
"No mais, Musa, no mais que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dhua austera, apagada e vil tristeza."
"Os Lusíadas" Canto X, Luis de Camões


Há quem mereça...
Frihet

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sufrágio

Caríssimos,
Vou, em seguida apresentar-vos um poema e fazer uma sondagem em relação a ele, passo a explicar:
Gostaria de saber se realmente a maioria das pessoas que lê que escrevo o entende minimamente, pois que não tenho muito feedback de comentários (por mais ou menos que sejam as pessoas que, por acaso ou infelicidade, vêm aqui parar). Eu percebo, é tremendamente enfadonho estar a explicar-vos isto e eu, para todos os efeitos, sou o dono deste blogue, imagino portanto o suplício que será escrever comentários sobre, e ainda p'ra mais, poemas sobre os quais não deve haver muito que se lhe diga mais do que "Gostei" "Não gostei.". Há também, caríssimos, que ressalvar os que me dizem directamente o que pensam dos poemas, vale mais que qualquer comentário aqui (não querendo com isso denegrir quem comenta ou faz tenção disso). Sem mais delongas vou escrever aqui o poema e submetê-lo e submeter-vos a dois sufrágios. Não vou dizer para não se sentirem pressionados pois não primo pela hipocrisia, além disso é mesmo essa a ideia. 3 Clicks, não peço mais, votam num, votam no outro e vão à vossa vida.

Em alto posto fita a noite negra com olho prateado,
Vê nela a prisão e a presa, a precisão e a perfeição,
O sangue dardeja nas veias, o coração é assombrado
Pelo assombro vário do defeito, do som, da detecção.

O vento ruge-lhe nos ouvidos, o mar estruge na lonjura,
Urge o tempo, surge-lhe a visão, a mão negra e dura
Cerra-se por sobre a ferramenta do ofício, só, só e seu,
Sua a face, mas não teme, tudo é simples, mestria pura.

Move-se a planura gramínea mais sonora que o ateu
Passo do enteu enviado p’la grandíloqua loucura,
Loucura d’outrem, ele apenas, qual fero Anteu
Preso às garras da mãe, exibe-se ao dano e desventura
Por conta dess’outra conta. Só consigo…são e sandeu.

Não há sombra’scura que o escude, morte que o agasalhe,
Ele é a sombra, ele é o detalhe em que a morte tem gosto,
Em áureo passo lesto, mais que humano em tudo o resto,
A sombra o revela, por sua escolha, reluz-lhe o rosto…

Felino instinto lhe move a musculatura contra a escabrosa
Muralha que não lhe é mais que chão, e a mui venenosa
Armadilha que matou tantos outros, é meio vão
Pela perícia ancestral e sábia mão
Que lhe guia o mover divinal
Da perfeição…

(Vê trifauce cão a Parca afiar a lâmina cortante,
Por que seja cortado o fio fiado até ao dia derradeiro,
E se lhe não chegou, à Parca, o respirar distante
Último de quem já à morte sente o cheiro,
È não por falta do que à negra morte traz diante
Os pagos por não verem o raiar primeiro
Do astro que tem no céu reino d’alvor,
Que cair fez uns e outros por seu rubor.)

[(]Cai a mão e o fio desliza, cortando ambos no mesmo instante,
Com perícia, um por condição outro por precisão acutilante,
A vida que tomada é, com prazer grande pera o mundo
Que se rege por outro brilho, menos brilhante, mais profundo.[)]

Aquece agora a sombra o filho que’à Terra garantiu,
Sumindo-o ainda mais rápido que o fez aparecer,
‘Sfumando-o com o mesmo fogo frio com que ungiu
As mãos cruéis que ao mundo tiram por receber…
Sem receio, pois o temido ele aqui comanda,
‘Scondido pelo ódio que lhe dá sempre de comer…
Inflamado pelas chamas negras qu’incita e abranda
Nosferatu letal, que (se) oblitera, flor-de-lis fatal,
Oculto nessa demanda, ó sombra, quem é hoje à espera?

Rafael Cardoso Oliveira

Citação do dia:
"The skill of writing is to create a context in which other people can think"
Edwin Schlossberg

Ao sufrágio, senhoras e senhores, vamos a votos!


Opressão..