segunda-feira, 21 de abril de 2008

Fora

Já que a sensibilidade de um fere a sensibilidade de muita gente e, por razões sensíveis, não podem ser publicados versos (ou muito tardam em sê-lo), far-se-á aqui a publicação. Não tem este poema o intuito de ofender ninguém, ou não teria intuito algum (releia-se a frase se não apreendida numa primeira leitura). Vamos ao que interessa:

Fora

A carne engana a luz, dissolve a sombra, oculta a escuridão,
Priva os veros olhos de encontrarem na pilha de excremento
Algo que brilhe, que valha a morte, algo mais que a podridão
Reverberante em cada traço do corpo, em cada movimento.
Embebedam-se os sentidos com vinhos estragados e usados
Nega-se o eu, vomita-se o eu, é-se consoante os aceitados
Cadáveres estuporados que pendurados vão nas bancadas…
Inconsciente e cega a noite espreita: os corpos suam de temor,
Acende-se um cheiro frio de varejas comendo carnes mastigadas.

Frio gélido de horror de cada um; os mortos andam e fingem as vidas,
Erebus mostra as faces ensanguentadas, o rosto amaldiçoado,
A morte vem, alimentada deles, verte-se a alma p’las f’ridas

Corvos banqueteiam-se das cabeças caídas,
O pó é sangue, é de sangue a estrada,
Estou cansado…

Rafael Cardoso Oliveira

Citação de força:
"If you want my strength, you must pay the price"
Yojimbo, FFX

Ao xis branco em rubro fundo!

sábado, 19 de abril de 2008

Poética Perversão

Poética Perversão

Eu sou de rimas perversas, de vozes perversas.

Escuto atentamente os sussurros nocturnos que amedrontam
O mundo e os seus diurnos habitantes: as pessoas, nas diversas
Vidas que levam, que arrastam, que, ofegantes, têm de cumprir…

Há um sorriso amarelado quando o ar gelado corta por entre os ramos
Do arvoredo sinistro, abandonado(,) na noite sem luz alguma, e eu,
No meio daquela bruma, daquela chuva, abro os olhos. Volto a abrir…

E nada. Nada além da espuma que sai das mandíbulas de cães raivosos
Que o negrume ferem com olhos avermelhados, dentes venenosos,
A força bruta da musculatura própria do medo e da indefinição.

Também os meus olhos são vermelhos de escuridão,
E há alturas de medo, mas é meu, hoje, o sorriso estranho,
Há dias de medo, hoje não, poética perversão…

Hoje eu ganho.

Rafael Cardoso Oliveira

Citação estranha:
"Now it's the time to choose,
DIE and be free of pain,
or LIVE and fight your sorrow"
Auron, FFX

Tidus: I'm sorry I couldn't show you Zanarkand.

X

terça-feira, 8 de abril de 2008

hi5

Caríssimos e pacientes leitores,

Há, neste mundo, muita coisa errada. Não é isto novidade p'ra ninguém, mas convém que se diga para que não se pense que se tecem as seguintes críticas porque não havia mais nada para criticar. Não, senhoras e senhores, não de todo, já que é sabido que a estupidez é o unico recurso não renovável que é ao mesmo tempo inesgotável e ainda p'ra mais muitíssimo bem distribuido à escala mundial. Quanto ao ser não renovável, posso conceder espaço aqui mesmo a alguma discussão sobre a matéria, ficando, porém, desde já uma nota prévia: a estupidez não se renova a uma escala comparável a da vida humana, ela não se renova de todo, porque se ser-se estúpido não é algo de original, a arte de estupidificar as acções tende a ser um poço sem fundo, em termos de originalidade e em quaisquer outros. Em termos matemáticos é uma função exponencial que tende, por condiçao, para o infinito (positivo no caso).

Mas, até aqui, nada disse de novidade.

E agora vou contrariar a régia lei deste blog: "Não dizer nada pessoal sobre mim" - redundância bem empregue uma vez que tudo aqui é pessoal, o que interessa é o sobre mim. Tudo eu, mas nada sobre o eu.

A minha irmã tem hi5. Os meus amigos têm hi5's. Os desconhecidos têm hi5's. O mundo em geral tem hi5. E eu, e alguns saudosos resistentes, não. Agora eu pergunto: Qual é o propósito do hi5? R: Mostrar às pessoas, amigos ou desconhecidos fotos do nosso corpitxo e informar sobre os nossos gostos de música, literatura, comida, passatempos (desprezo os hobbies), e coisas que gostamos de fazer. " 'Pera lá Rafael, em que é que isto não faz sentido?"

Para os desconhecidos: gente a quem pouco ou nada interessa os meus livros (se os há, raros casos) ou a minha comida, bebida, posição sexual, marca de corta-unhas, creme de barbear preferidos. Isso pode nem interessar aos meus amigos, quanto mais a pessoas que me desconhecem. Mas há sempre as fotos, e valham as fotos, que os olhos se regalam com muito pouco, apesar o cérebro exigir mais que ver caras e pessoas (pelo menos o do Homo Sapiens Sapiens um tudo-nada desenvolvido). O porquê das fotos: pouco texto e muita acção, é o que baste. Não precisa de haver textos sobre as pessoas, nem das pessoas, as fotos é que é! Não dão trabalho e, não gostando, há sempre outras. Há-as no quarto de banho, na cozinha, na sala de estar, na discoteca, no bar, na casa da tia e do primo, em férias, há-as em todo o lado (nota: verificar a conjugação do verbo haver e verificar que há-as é correcto, para quem não sabe). Fiquemo-nos por aqui... por agora.

"Mas repara Rafa, eu tenho uma coisa no hi5 que só permite que os meus amigos o vejam"

Para os amigos: aqui sim está o descabimento completo, p'ra quê, afinal, os meus amigos precisam de aceder ao meu hi5 para saber qual é o meu peixe grelhado predilecto? As pessoas falam, e se alguém realmente se interessasse sobre o assunto do peixe grelhado, ter-mo-ia perguntado uma vez mais, directamente (ou por um qualquer outro meio que não involva consultar uma espécie de ficha de resumo do que EU sou). Mais uma vez as fotos, e valham as fotos, que os olhos, uma vez mais, se regalam com elas, mas o cérebro não (ou pelo menos o meu). Ainda assim, as fotos não têm, para os amigos, utilidade nenhuma, senão vejamos:

- A maioria são tiradas no mesmo cenário com riqueza luminotécnica variável bem como perspectivas várias - um naco de carne (feio ou bonito) visto a diferentes luzes, não satisfaz;

- A maior parte delas não revelam nada que algum amigo, que se preze nesse cargo, não saiba ou não deva saber - os amigos conhecem os nossos desportos favoritos, onde fomos de férias e algumas das coisas pelas quais nos interessamos, não satisfaz.

- Também aos macacos se dão fotos de pessoas a ver, sendo-lhes pedido que identifiquem a cara, se já a viram, ou façam algum tipo de correspondência simples. Consoante a escolha deles recebem, ou não, amendoins. Faltam os amendoins, não satisfaz.

Entre amigos e desconhecidos, o hi5 serve melhor os desconhecidos realmente. É um sítio, para a maioria (para a massa), de engate, o interesse é muitíssimo reduzido para amigos mas, por via das facilidades, é um meio óptimo de passar tempo.

Não sei se é deficiência ou eficiência da minha parte, mas eu sinto-me mais complexo do que os meus livros favoritos, comida, bebida, filmes, gostos no geral. E, sem dúvida, muito mais complexo que as fotos! O hi5 serve como uma espécie de ficha rápida p'ra se ver se a pessoal é "baril" daí em diante começa o relacionamento, seja por que forma for. É comparavelmente tão interessante como ler curriculums vitae, ou testes psico-técnicos, mas eu nunca ouvi ninguém dizer que isso era giro, sendo ponto assente que o hi5 é giro.

Além disso o hi5 é fantástico pois tudo o que sejam comentários, são sempre positivos... não, minto, são sempre "fofinhos". Todos os utilizadores são pessoas fantásticas, o que me leva a crer que Satanás deve andar danado, que esta terra só tem gente boa. Além disto, são todos lindos e lindas (gatos e gatas), quanto a isto nada, eu pessoalmente só me dou com gente loira de olhos verdes, mas que intelectualmente possui o QI de uma maçã, excluindo a minhoca, com naturalidade.


Eu desci ao inferno senhores, fui pesquisar em hi5's com a companhia da minha irmã.
Podem encontrar-se coisas deste género:

"Fos-te DESILUSÃO ."
"Acabas-te de MORRER"
"Conheçes-o "
Lá que o português morreu, a par do cérebro, morreu. Fos-te? Depois claro, sai o fos-te-te ou o acabas-te-te. Conheçes já é bom, mas conheçes-o é ainda melhor, e repare-se na destreza mental deste neandertal: Conhece-lo? Não, tu no máximo conheçes-o.

"Localidade
Estambul, Turquia "
Estambul... alto lá que ainda não falamos castelhano, sorte deste iluminado que meio mundo pensa que Portugal é província espanhola.

"Esquesito, para quem te atura todos os dias, estas muito santinho"
Estranho p'rá próxima, não tem erro. (Note-se que este exemplar sabe usar apostos, há que aplaudir)

Livros preferidos: "que' isso? " - sem crítica a quem não gosta de ler, só, por este factor, não me espantam os erros crassos encontrados a cada linha e que acima se disseram.

Estou cansado de escrever...
que se canse agora quem lê,

Citações:

"Eu não sou quem tu desejas
Eu não sou aquele que beijas
Sou um mero pesadelo
ou fantasia..."
Jorge Palma