quinta-feira, 10 de março de 2016

D'amor irreal

Sem grandes revisões nem meta linguística (por sugestão de substituição de "metalinguística"): isto.

De’amor irreal

O meu amor tem os dois pés no chão
E o coração cheio de senãos,
Ou uns senãos cheios de coração.
É livre como as aves agrilhoadas
E tem a tendência a dar as mesmas voltas
Que elas,
Ainda que só em gaiolas imaginadas,
Dão.

O meu amor sabe medir os meus nadas
E mentir os meus dias para dizer que são bons.
Pinta, com deleite tangível e com todos os tons,
Os céus cinzentos das manhãs iguais.
Sabe-me as manhas e saboreia-me as mamas
Com toda a sua devoção espiritual
E o mesmo sentido de dever carnal.

O meu amor não se cala um segundo em mim,
E qualquer segundo amor que eu tenha,
Sendo ou não sendo seu, ele partilha.
Fervilha, doente, a cada crepitar da nossa lenha
E é por isso que cada amor dele
É coisa minha.
A nossa coisa é termo-nos nos termos
Em que as pessoas teimam em não se ter.

O meu amor sabe amar-me quando eu não sei viver.
E junta aos meus copos a mais o seu esplendor e raça
Teatrais.
Naturais ondas do nosso oceano de compreensão
Em que há barcos a naufragar e a chegar na mesma proporção
Das mortes e beijos de regresso do mundo real.

Por isso amo o meu amor assim:
Às vezes carnal e secamente,
Outras vezes só co'a mente,
E ainda outras vezes
É só ele que gosta de mim.

Rafael Cardoso Oliveira