domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sufrágio

Caríssimos,
Vou, em seguida apresentar-vos um poema e fazer uma sondagem em relação a ele, passo a explicar:
Gostaria de saber se realmente a maioria das pessoas que lê que escrevo o entende minimamente, pois que não tenho muito feedback de comentários (por mais ou menos que sejam as pessoas que, por acaso ou infelicidade, vêm aqui parar). Eu percebo, é tremendamente enfadonho estar a explicar-vos isto e eu, para todos os efeitos, sou o dono deste blogue, imagino portanto o suplício que será escrever comentários sobre, e ainda p'ra mais, poemas sobre os quais não deve haver muito que se lhe diga mais do que "Gostei" "Não gostei.". Há também, caríssimos, que ressalvar os que me dizem directamente o que pensam dos poemas, vale mais que qualquer comentário aqui (não querendo com isso denegrir quem comenta ou faz tenção disso). Sem mais delongas vou escrever aqui o poema e submetê-lo e submeter-vos a dois sufrágios. Não vou dizer para não se sentirem pressionados pois não primo pela hipocrisia, além disso é mesmo essa a ideia. 3 Clicks, não peço mais, votam num, votam no outro e vão à vossa vida.

Em alto posto fita a noite negra com olho prateado,
Vê nela a prisão e a presa, a precisão e a perfeição,
O sangue dardeja nas veias, o coração é assombrado
Pelo assombro vário do defeito, do som, da detecção.

O vento ruge-lhe nos ouvidos, o mar estruge na lonjura,
Urge o tempo, surge-lhe a visão, a mão negra e dura
Cerra-se por sobre a ferramenta do ofício, só, só e seu,
Sua a face, mas não teme, tudo é simples, mestria pura.

Move-se a planura gramínea mais sonora que o ateu
Passo do enteu enviado p’la grandíloqua loucura,
Loucura d’outrem, ele apenas, qual fero Anteu
Preso às garras da mãe, exibe-se ao dano e desventura
Por conta dess’outra conta. Só consigo…são e sandeu.

Não há sombra’scura que o escude, morte que o agasalhe,
Ele é a sombra, ele é o detalhe em que a morte tem gosto,
Em áureo passo lesto, mais que humano em tudo o resto,
A sombra o revela, por sua escolha, reluz-lhe o rosto…

Felino instinto lhe move a musculatura contra a escabrosa
Muralha que não lhe é mais que chão, e a mui venenosa
Armadilha que matou tantos outros, é meio vão
Pela perícia ancestral e sábia mão
Que lhe guia o mover divinal
Da perfeição…

(Vê trifauce cão a Parca afiar a lâmina cortante,
Por que seja cortado o fio fiado até ao dia derradeiro,
E se lhe não chegou, à Parca, o respirar distante
Último de quem já à morte sente o cheiro,
È não por falta do que à negra morte traz diante
Os pagos por não verem o raiar primeiro
Do astro que tem no céu reino d’alvor,
Que cair fez uns e outros por seu rubor.)

[(]Cai a mão e o fio desliza, cortando ambos no mesmo instante,
Com perícia, um por condição outro por precisão acutilante,
A vida que tomada é, com prazer grande pera o mundo
Que se rege por outro brilho, menos brilhante, mais profundo.[)]

Aquece agora a sombra o filho que’à Terra garantiu,
Sumindo-o ainda mais rápido que o fez aparecer,
‘Sfumando-o com o mesmo fogo frio com que ungiu
As mãos cruéis que ao mundo tiram por receber…
Sem receio, pois o temido ele aqui comanda,
‘Scondido pelo ódio que lhe dá sempre de comer…
Inflamado pelas chamas negras qu’incita e abranda
Nosferatu letal, que (se) oblitera, flor-de-lis fatal,
Oculto nessa demanda, ó sombra, quem é hoje à espera?

Rafael Cardoso Oliveira

Citação do dia:
"The skill of writing is to create a context in which other people can think"
Edwin Schlossberg

Ao sufrágio, senhoras e senhores, vamos a votos!


Opressão..

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Divinização (a minha face mais plagiadora)

Bem, não há muito a dizer quanto a isto, e, nem que houvesse, digo, sem certeza, que não explicaria mais do que aqui vou revelar, até porque acusar-me a mim mesmo de plágio não acontece todos os dias. Não será bem plágio mas sim profundíssima inspiração, a havê-la, nas obras com que tenho tido contacto ultimamente: Lúsiadas e Mensagem. Por isso não admito que qualquer semelhança seja, por vós, carríssimos, tida como coincidência; o plágio dá-me honras, a sorte não (denote-se a levíssima cópia aqui também: "Louco, sim, louco, porque quis grandeza / Qual a sorte não dá", se não tivesse falado ninguém o notaria mas, em tempo de confissão, que se expurgue a alma de todos os pecados e não somente de alguns). Então aqui vos deixo, sem mais delongas, o meu húmilimo texto sobre a Divinização d'um povo que é o nosso e que em nada se compara, por um lado, aos dos meus antecessores e, por outro, ao mesmo povo.

Divinização

Senhor, onde está? Senhor, onde é? Senhor, donde vem?
Essa treva de Thanatos tão mimosa e tão segura,
Senhor que é dela? Que mesmo tudo morrendo,
A que a tudo dá o sopro horrendo assi perdura?
Manda ela mais que tu, ó nobre deus, nobre rei,
O que tudo comanda menos a morte que sonhei?

Tendes vós, senhor dos céus, a força certa e contada?
É deveras vossa a face que agora é rubra e irada?

Abri pois, vós, do firmamento a larga porta por que passe
Brilhando a gente cuja memória ainda troa,
Ruborizando dos brancos céus a ebúrnea face
E ofuscando tua divina e grã pessoa…

Tremei Senhor, mas da emoção que o marfim permite
E que a um deus tão grande como vós se bom admite!

Senhor, aqui está! Senhor, aqui é! Senhor, daqui veio!
Essa gente cuja força o mar temeu e que’o céu vergou!
Sem que à morte nem um dia O Portugal tivesse receio,
A matá-lo veio a treva que só assombra quem dobrou
Maiores sombras que as que’o mundo inteiro receou!
O povo que, pouco e pequeno, a etérea altura, grande, pisou!

Concedei-nos, ó das lonjuras mesmas em que caminhámos,
A majestade que um dia nos roubada foi, e é connosco!
Encobre os mares dessa névoa, bruma de que alimentámos
Lutas titânicas contra do grão mar o inverso oposto!
Um dia virás, ó da bruma, pelo império que aguardámos…
Mostra-te! Por quem és, grão Encoberto, Portugal sem rosto…

Rafael Cardoso Oliveira

Citações d'outros louvores:
"Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada."

"Os Colombos" Mensagem, Fernando Pessoa

"Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano ,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta."

Proposição Os Lusíadas, Luís de Camões


Por que se rasgue o véu,

Canto superior direito...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Poema para não ser lido & Zigesag

Se está alguém desse lado, a ler antentamente o que venho dizendo ou então simplesmente a ler na diagonal, certamente terá sentido esta dura e longa ausência de vida neste blogue. Mas, como o prometido é devido, e já que prometi que só falaria de coisas que realmente fossem de interesse (p'ra mim, claro está), é razoável assumir que nada de interessante se passou nestes últimos dias de Janeiro, o que alías é perfeitamente verdade. Contudo, há algo a que gostaria de fazer referência: para todos quantos me lêem e lêem também o jornal da ESAG (Zigesag) certamente é notório que uma única publicação do jornal comporta mais textos meus do que este blogue até este dia. É um prestígio que não mereço de todo. Foram publicados quatro poemas meus no jornal (publicados unicamente na Internet) e um texto de carácter mais cientifico, não o sendo integralmente. Quero só deixar bem marcada aqui a ideia de que é uma honra que não mereço, um destaque que está para além do que esperaria um jovem autor como eu, mas, por outro lado, um inexplicável contentamento de que realmente não estava à espera.

Bem, senhoras e senhores, leitores em geral deixo-vos com um poema dos que nesse jornal estão publicados, esperando que gostem e, se vos aprouver, me digam algo.


P.S: Aprouver significa, popularmente falando, apetecer.


O Poema para não ser lido


Não me leia,
Que tem você a ganhar com versos ocos?
Patéticos, pútridos, parcos, poucos,
Dados a esta desistência de não terem desistido…
Pela sua herege, hegemónica e heterogénea existência
Num poema para não ser lido.

Acredite-me, perde tempo a ler isto…

Crê-me capaz de congeminar aqui uma charada
Em versos duma pobreza subliminar e desusada
Nus, nefastos, nauseantes como nunca se tem visto?
Seria sublime, não? Seria, se houvesse algo que se lesse,
Usaria, então, de toda a arte que potencialmente possuo,
Recuaria e recriaria, como recrio e recuo,
Adulterando tudo aquilo que disse…se isto se desse.

Infelizmente, pode ser que tudo isto, ainda assim, se dê,
Maldito seja eu por esta vil e infame complicação,
Poder-me-iam arder as entranhas, se assim tivesse sido…
E queimar a ideia a carne, como me queima o coração!
Rejeita o que disse? Ora, não me desdigo! Não.
Ainda por cima num poema para não ser lido!


Rafael Cardoso Oliveira


Podem encontrar os outros três poemas e o texto de que falo na página:




Os poemas dão pelo nome de: "O Poema patético"; "À morte"; "A Bicicleta";

O outro texto: "Alunos de Biologia da ESAG visitam novo espaço de Ciência"

Citações escritas:

I was working on the proof of one of my poems all the morning, and took out a comma. In the afternoon I put it back again.
Oscar Wilde

Better to write for yourself and have no public, than to write for the public and have no self.
Cyril Connolly

"As Portas que Abril Abriu... "Ary dos Santos

Libertação