Sem agravo nem apelo. Em frente.
O Bobo
Os dias de minh’alma chorosa e pequenina
São todos quantos cai de si Senhora nossa.
Os dias em que desce à terra de nós todos
E ouve as cançonetas que nós costumamos cantar.
Os dias em que escuta o céu aberto e vê o mar
E os rios sem fim, que lhe escondem todas as caras.
Os dias de minh’alma pequenina correm lestos,
Entre os gestos frustres que me olham na lonjura…
Que de tão parvo que sou, vêem-me a cura…
Vêem, no meu ser minúsculo, um espelho,
Altivo(,) velho(,) inverso(,) esguio e traiçoeiro
De grandura.
Os dias de minh’alma só chorosa os não quero(!)
(Quer dizer… não os posso não querer, porque nos não dão
A escolher sequer o pão nosso de cada dia.)
Hoje olho minha Senhora e está vazia
Do seu brilho singular de mulher feia e mulher fria,
Do gelo árido que tem nas mãos de morte fiandeira.
Hoje o dia foi bom, e fui contente,
Pois que a máscara que hoje usei p’ra toda a gente
(Que nela vê a cura que só as máscaras e as más caras dão..)
Funcionou (!) e toda a gente viu…
Hoje, como sempre,
Nos dias de minh’alma chorosa e pequenina,
Fingi e menti-me,
mas Ela riu.
mas Ela riu.
Rafael Cardoso Oliveira