Sem queixas nem desculpas.
Entre eu e tu
Entre nós dois há a espada presa por um fio
Entre eu e tu
Entre nós dois há a espada presa por um fio
De teus cabelos, que confio ser um fio forte.
Entre eu e tu há um mar, que é o desafio
Por mentir entre indicar o sul e o norte.
Entre nós dois há a imensidão silenciosa
Que é só silêncio – ele mesmo – assim pousado
Como se por uma moça indecorosa,
Que sabe tão mais de poesia que de prosa
Que abusa dele mesmo estando ele calado.
Entre eu e tu há um nós que é uma parede.
Há esta rede, a trama, a teia; o sermos sós.
Entre nós dois há a mesma fome e a mesma sede,
E grita, internamente, a mesma voz.
Giramos, em eixos iguais, assim opostos,
Quais dois bonecos, manipansos sem justiça,
Que, num qualquer castelo de brincar
São de girar sempre e sempre nos seus postos.
Rodando em sua real grandeza de cortiça,
De metal, de madeira, de “tanto faz”,
Temos o azar da descoordenação por condição
E deste trocar o nosso olhar sempre fugaz.
Cada um roda na sua direcção,
Cada um olha o seu coração a nu.
Cai a espada e rasga o poema, e a minha mão
Sangra por escrever sobre eu e tu.
Rafael Cardoso Oliveira