segunda-feira, 26 de maio de 2008

Para não deixar em preto

Bom, hoje, neste post, neste momento, neste dia 27 de Maio do ano da graça de 2008, eu, Rafael, autor deste blogue, resolvi fazer uma prosa. Sim senhor, uma prosa, mas uma especial: em primeiro lugar será curta e em segundo não dirá nada que se aproveite.

A verdade, cá para nós, é que o problema está em eu escrever muito. Eu sei. Eu canso e, cansando, canso-me também. Eu frustro e, frustrando, sinto-me frustrado também. Por isso, hoje, e apenas hoje, se fará aqui um texto que a mim me não diz nada e que vai contra todas as normas de conduta que eu criei para este local. Se o engenheiro pode fumar e apenas fretou o avião, é mais que óbvio que eu, que sou dono e criador absoluto disto, posso subverter as regras. Eu aqui sou a voz do além. Não têm vocês a noção do que isso me agrada.

Acabei de decidir que este texto será uma reflexão sobre o trabalho efectuado até agora neste blogue. Duas palavras: Muito pouco. Entrego muito pouco do meu tempo a isto, muito pouca da minha paciência e do meu ser. Disto tiro algum prazer, é verdade, não o nego, mas há aqui mais frustração que qualquer outra emoção.

O que me leva a não desistir destas, chamemos-lhe, com a devida benevolência pelo calão, "vidas", é o respeito pelo que eu faço. O meu propósito não é nobre, os meus poemas são só palavras e os meus textos nada têm de artistico ou especial, é verdade, mas, penso eu, isto é o melhor de mim, da minha invasão e percepção do mundo. Só o partilho porque considero que o devo partilhar, ainda que possa ser apenas comigo e com meia dúzia de gatos pingados que até acham graça a isto.

Mas, vem agora a verdade, o que se quer mesmo é que alguém desconhecido odeie ou ame este lugar. Pode parecer estranho, mas, por estes dias, quero que quem não devia ter nada a dizer sobre este blogue se manifeste. Isso sim seria a prova de que não estou aqui sozinho.

Citação de última hora:
"Are you watching closely?"
The Prestige

Considerando o seu monitor um plano de Argand, com a origem O no seu centro, desloque o seu cursor no sentido do vector Z2+Z1, sendo Z2=2+2i e Z1=1+i, até à cor.

Se ainda aqui está é sinal que ou não domina os números complexos, ou ainda pensa que vou dizer alguma coisa que se aproveite. Não, o prometido é devido.

domingo, 18 de maio de 2008

Nem um dia sem uma linha

Palavras p'ra quê? (expressão perfeitamente incongruente neste contexto e no que se segue). Aqui vai:

Nem um dia sem uma linha

Vem a mão contrariada ao funesto encontro
Com a morte disfarçada em papel branco e claro,
Que tudo se compõe para que haja inspiração
E há um ar raro, uma magia qualquer e sedução.
Mas dói cada tendão, o corpo todo, a maquinaria,
A mão contrai-se, remete-se ao silêncio, foge…
Hoje não é dia de poesia.

O universo está parado e aborrecido, e as leis
Da física e da metafísica são todas matemáticas iguais,
Não se mataram crianças para não morrerem reis
Nem se atentou contra coisas mais mortais.
O dia fulvo está absolutamente adormecido
Calculado ao ponto de dor e de dor nenhuma,
Se há quem leia isto, veja o mundo, e não tenha morrido,
Então, por certo, é tão morto que morte alguma o quereria.

Veja-se a merda de tudo isto, senhores, e dela a escassez.
Ainda me lê? “Hoje estamos fechados, é segunda quinta-feira do mês.
E Hoje não é dia de poesia.”

Rafael Cardoso Oliveira


Citação do dia:
"Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida,
Não fosse senão poesia?
- Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia."
Álvaro de Campos (a.k.a. Fernando Pessoa)

C'est tout!