Para ontem
Estico esta corda só um pouco mais.
Vejo-lhe os nós (e, às vezes, nós).
Vejo-me a sós.
Sinto-lhe a força e a fraqueza.
Que, de marujo bem treinado
Ou de bruxo manietado,
Não tenho senão a percepção…
Não tenho senão a ideia e a certeza
De não saber fazer o que eles fazem.
Estico esta corda só um pouco mais
Estico esta corda só um pouco mais
E sinto-lhe os veios, descubro-a de novo.
Sinto que é a força que agarra todo um povo
Quando esse se não distrai a jogar um jogo qualquer…
Jogo da corda, por ventura, em que cada mulher,
Gritando entre mil puxões e repelões,
É mais forte que os homens rezingões
Que se melindram, e não puxam mais.
E anda assim o povo todo a repuxar-se
E anda assim o povo todo a repuxar-se
A aturar-se, a maltratar-se e a mudar-se
Porque a corda não chega p’ra si e p’rós demais.
Estico esta corda um pouco mais
E descubro que não chega p’ra meus filhos.
Por isso comprei meia dúzia de foguetes
Porque a corda não chega p’ra si e p’rós demais.
Estico esta corda um pouco mais
E descubro que não chega p’ra meus filhos.
Por isso comprei meia dúzia de foguetes
(Coisa de feira e incapaz de correr bem);
Sei que lhes darão melhor serviço
Que a alegria pouca p’ra que serviriam
Se algum dia de alegria fossem feitos.
Podres rebentamentos de alegres preconceitos
Em que é suposto ser-se alegre na explosão
De uns carmins e uns verdes pouco atreitos
A pintar esta tristeza de nação.
Estico esta corda um pouco mais
E vejo que quase nem chega para mim…
Meu baraço invejado, meu caminho de fim
Meu baraço invejado, meu caminho de fim
Para o pais sem fim/sem mim que sonhei vir ver um dia.
Que se rebentem todos estes foguetes de fingida alegria
Que se rebentem todos estes foguetes de fingida alegria
Enquanto eu saltar deste cadafalso que é um madeiro
Corroído, puído, usado vezes e vezes e o verdadeiro
Fim de quem já nem fim almeja.
Rafael Cardoso Oliveira
"O Homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz."