terça-feira, 5 de julho de 2016

Pathos

Ao viajante.


Pathos

Se te estender uma mão mas te ocultar o coração
Que sentirás?
Terás da ajuda que te dão o que procuras?
Procurarás a emoção para a encontrar racionada,
Racionalizada, raciocinada e empacotada
Junto de tantos outros males
E de outras curas?

Há mal em perder caminho e aventuras?
Há mal em ter caminho e arrepiá-lo?
Mal maior será ter tempo sem ter tempo
Para dá-lo sofregamente a quem padece,
A quem sofre de menos tempo que este tempo
E da menor benesse
De um céu qualquer
Ou do inferno fulgurante que amanhece.

Acontece-me esquecer que tenho duas mãos para dar.
E perco tanto, tanto tempo em juras e remorsos
Que só me escondem o coração, e os meus ossos
Fazem brilhar como se não fossem os teus ossos também.
Perco mais tempo a deixar ir aquém e além quem não sabe andar,
A masturbar o intelecto ou o objecto dos dias em que, cego,
Me nego a perceber e a aceitar que sou eu que consumo
Estas curas de que nem Maquiavel nu se lembraria.
E talvez pie - talvez não pie – uma piedosa cotovia
Que, cruel, debique, qual águia-real descendo a pique,
As mãos e o coração que pus nos bolsos, neste dia.

E por si pia.

Rafael Cardoso Oliveira



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