Tenho em mente um prato de quimeras,
Ou tenho, em minha frente, um desafio.
Um desatino qualquer, um dia sombrio,
Mas mais sombrio do que a sombra mais merece.
Tenho, ante mim, a mente sobre um prato de quimeras
E todas as esperas que esse prato me oferece.
Tenho, nele e dele, todas as minhas relutâncias
E as minhas ânsias gastas de ignorante.
Os meus dias de amante menos fulguroso.
Tenho deste prato um medo pavoroso
E uma vontade langue de lhe saber os sentidos.
É um prato cheio de ostras imaginadas, entenda-se.
Ou mesmo de ostras normais, se ajudar à poesia.
O afrodisíaco – dizem - que até ao mais frio homem
aquecia,
E para a mais fria mulher fria era eficaz como soía.
Só aos poetas esta sensação não dá em nada.
Como ostras com a mesma pena pousada dos dias todos,
E o sol e os modos que costumo ter ainda cá estão.
Como ostras sabendo de antemão o que fariam
Mas sentido sempre que nunca, nunca hoje o farão.
Produto risível de um qualquer charlatão
Que me enganou e prometeu cura mais que certa
Para esta mente deserta com um prato cheio
De um bivalve simples - daqueles de abrir a meio –
Para lhe sorver a suculenta carne divinatória.
Uma carne para iluminar a oratória e as moratórias
demoradas,
Para encarnar e criar ainda mais fadas
Que iluminem a minha escrita cada dia mais desfalecida.
Só podem ser estas umas quantas ostras estragadas,
Que não surtem efeito nenhum na minha vida.
Continuo murcho e estático, e longe poeta ineficaz.
Olhando o clarão lilás e dizendo que é bonito, sim
senhor!
Mas sem mais que diga,
Sem um único clamor mais,
Sem uma única linha que dure
amanhã.
Talvez haja nadas que valham isto,
Talvez este seja o espoletar da poesia.
Amanhã há mais um dia que,
Com a sorte que venho tendo,
Será um outro dia qualquer.
(Vamos indo, vimos vendo)
(Vamos indo, vimos vendo)
Comendo ostras como quem come umas torradas,
Insistindo em rimas sinistras e erradas
Quando eu não gosto de ostras sequer.
Rafael Cardoso
Oliveira
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