domingo, 13 de dezembro de 2015

Ode das Ostras

Tenho em mente um prato de quimeras,
Ou tenho, em minha frente, um desafio.
Um desatino qualquer, um dia sombrio,
Mas mais sombrio do que a sombra mais merece.
Tenho, ante mim, a mente sobre um prato de quimeras
E todas as esperas que esse prato me oferece.

Tenho, nele e dele, todas as minhas relutâncias
E as minhas ânsias gastas de ignorante.
Os meus dias de amante menos fulguroso.
Tenho deste prato um medo pavoroso
E uma vontade langue de lhe saber os sentidos.

É um prato cheio de ostras imaginadas, entenda-se.
Ou mesmo de ostras normais, se ajudar à poesia.
O afrodisíaco – dizem - que até ao mais frio homem aquecia,
E para a mais fria mulher fria era eficaz como soía.
Só aos poetas esta sensação não dá em nada.

Como ostras com a mesma pena pousada dos dias todos,
E o sol e os modos que costumo ter ainda cá estão.
Como ostras sabendo de antemão o que fariam
Mas sentido sempre que nunca, nunca hoje o farão.
Produto risível de um qualquer charlatão
Que me enganou e prometeu cura mais que certa
Para esta mente deserta com um prato cheio
De um bivalve simples - daqueles de abrir a meio –
Para lhe sorver a suculenta carne divinatória.

Uma carne para iluminar a oratória e as moratórias demoradas,
Para encarnar e criar ainda mais fadas
Que iluminem a minha escrita cada dia mais desfalecida.
Só podem ser estas umas quantas ostras estragadas,
Que não surtem efeito nenhum na minha vida.
Continuo murcho e estático, e longe poeta ineficaz.
Olhando o clarão lilás e dizendo que é bonito, sim senhor!
Mas sem mais que diga,
Sem um único clamor mais, 
Sem uma única linha que dure amanhã.

Talvez haja nadas que valham isto,
Talvez este seja o espoletar da poesia.
Amanhã há mais um dia que,
Com a sorte que venho tendo,
Será um outro dia qualquer.
(Vamos indo, vimos vendo)
Comendo ostras como quem come umas torradas,
Insistindo em rimas sinistras e erradas
Quando eu não gosto de ostras sequer.

Rafael Cardoso Oliveira


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