Próprio para consumo, e com o relato curto das últimas publicações. Entretenham-se.
O poema dominical
Irmãos,
Irmãos,
Naquele tempo - que, até ver, é este - disse Jesus,
Co’a voz pesada e compassada que era de si:
“Nenhum poema há de pregar-se nesta cruz
Nenhum verso há-de morrer aqui.
Preguem-se os homens, as deidades, as ideias,
As cousas feias. Jamais se prenda a luz!
E maldito seja o blasfemo que o negue:
Que os homens o não escutem e deus o pregue!”
E, como hóstia divina aos céus entregue,
Endereçou, o filho pródigo, a maldição:
Aos ouvintes que não sabiam o que falava,
Ao povo que só lhe pedia peixe e pão.
E ignorantes, compuseram, em segredo,
A oração de quem não sabe e, só, tem medo:
“Pai nosso, que não sabemos onde estás,
“Pai nosso, que não sabemos onde estás,
Santificado seja o vosso nome.
Venha a nós o vosso reino, que o rapaz
Que é vosso filho diz que lá ninguém tem fome.
Seja feita a nossa vontade… (Ou saciada, que é igual)
Seja feita a nossa vontade… (Ou saciada, que é igual)
Antes de morrer e, se puder ser, depois um dia.
E livrai-nos do mal e dai-nos peixe, leite, azeite e sal
Que p’ra comer só há pão nosso de poesia.”
Rafael Cardoso Oliveira
"Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada,
mas não digas nada que eu estou a salvo." - Livro das Invenções
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