domingo, 27 de julho de 2014

Para amanhã

Sem mais que diga, vou andando e adiando.

Um tema gasto

Amanhã serei.

Serei até melhor do que o que prometo
E, apesar do mote ser gasto, só mesmo amanhã o farei.
Nem sequer será depois de amanhã!
Amanhã mesmo, por mais nefasto que seja
O que só amanhã saberei dizer.

Hoje amanho o que amanhã não amanharei…
ou talvez venha a amanhar (não sei) daqui os frutos:
Os versos certos e medidos e brutos
e embrutecidos e perdidos e com sentido.
Mas só amanhã. Pois hoje, dissolvido neste desejo,
Nesta âncora que é o presente ser passado amanhã,
Não colho coisa nenhuma. Amanho hoje, amanhã se verá.

Cai como seda este poema, como uma pedra de seda.
Ou cai como uma velha sem sutiã do alto do Cristo Redentor
Para morrer redonda num clamor violeta;
Amparada na fé que ontem tinha que o senhor (ou o capeta)
Amanharia a sua vida ou ampararia seu caminho.
Pobre coitada… tivesse saltado amanhã e estaria salva!
O braço da gigante estátua a colheria;
Um pássaro enorme voaria e a salvaria;
Uma luz qualquer lhe douraria o rosto e ela
Não se espatifaria como a ameixa mais carnuda
Caída, despida e desnuda e não explodiria…
Sobretudo não explodiria.

Mas o seu senhor anda longe destas sendas,
E, se deixou para amanhã o salvar-se a si,
Podem morrer mil velhas como esta que aqui
Por aqui ou daqui não sairá um pára-quedas que seja.
Amanhã teremos todos os meios para salvar quem deseja
Matar-se de alturas impossíveis. Hoje não.
Hoje nem os poemas se salvam de finar.

Este já está no alto e vai saltar.
Rafael Cardoso Oliveira

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