segunda-feira, 4 de novembro de 2013

"Podeis sentar-vos um bocadinho"


Eis uma bela didascália que o pároco da paróquia a que eu julgava que ia insistia em ler... Mau actor, o senhor (ou deverá dizer-se: "Mau actor, o Senhor"?). Ainda assim é mais que apropriada para título desta peça e para sair para sempre das ruas da escuridão rumo às travessas da pouca luz. Não me podem acusar de não ter tentado.


Dulcineia embriagada

Olha p’ra mim hoje, encara-me.
Escancara o teu abraço e dá-me um beijo;
Acende os copos com vinho maduro
E corta o melhor queijo que comprei.
Sê a sede que tenho em não te ter perto
E a pena certa de que não vais voltar.

Hoje abri o frigorífico procurando-te.
Queria ver onde te escondias. Queria…
Malditos dias em que apareces, maldito dia
O de hoje e aqueles em que sempre me ofereces
As frutas maduras de um amor que já passou.

E te procurei no chão do quarto e no ralo da banheira
Não estavas lá e, se me lembro bem da bebedeira,
Foi como se estivesses de lá soprando rosas e perfumes…
Sempre. Noite fora.
Procurei-te nas ondas do mar de canja que comi,
Em todo o frango que afoguei em vinagre a pensar em ti,
Em todas as barbaridades poéticas que escrevi,
Em todas as estocadas imaginadas que dei p’ra que acordasse.

De todas a mais fugaz, luz marinheira
Dos faróis, que em seis raios de fulgura passageira
Te ocultam em quadrantes de escuridão.

Rodam os seus braços de cega luz paralisante.
E, enquanto te procuro no sofá, há lá fora um grão gigante
Rodando os braços p’ra Cervantes num dragão.

Rafael Cardoso Oliveira


Esperei mais que o próprio Cristo para voltar à vida disto. Não o tomeis por maldade ou presunção. A presunção basta.

1 comentário:

a tua mãe disse...

A citação de team fortress, é coisa do passado?!