Porque é sempre difícil voltar à vida disto, deixo só a seguinte mensagem: Seja responsável. Pense com moderação.
O das sortes ou Ode às sortes ou Só dás sortes
As moedas que atiramos ao ar
Caem, invariavelmente, na nossa cabeça.
Ainda que nos aterrem na mão, na algibeira,
No balcão onde a criada velha nos reprova a borracheira
Ou no coração onde, criados velhos, vamos sempre devagar.
São assim as moedas que atiramos ao ar.
Feitas de metal que é só o nosso olhar
A olhar para elas enquanto rodam, coloridas.
Nessa altura não são moedas: são vidas
Que rodopiam e se escusam à razão.
As moedas que lançamos ao ar estão todas na nossa cabeça
E todas caem, com estrondo, no mesmo chão.
Caem na loiça vazia da aspereza do nosso dia,
E não a partem porque fazem mais barulho sem partir.
Todas as moedas vão de sorte e, com sorte,
Todas a hão de voltar e de cair…
Antes (d)a morte.
Antes (de) ir.
As moedas que atiramos ao ar são a nossa expectativa.
São mais que o querer ganhar: são mau perder!
São a nossa presunção de as depositar num ofertório
Da missa de um padre transitório como é a nossa
cristandade.
As moedas que lançamos ao ar são todas a verdade,
E todas são o medo que temos de a enfrentar.
“Antes a sorte que tal sorte...” – dizemos e lançamos
Apertamos bem os nós dos dedos e, cegos, fitamos
O que o destino nos tem reservado.
Bruxo de cega sina e mau-olhado,
Pecado só pago no cestinho da missa matutina.
São assim as moedas que atiramos ao ar.
E há os que as apanham no ar, pensando vencer a charada.
Mas as moedas que não chegam ao seu ponto não são nada.
Cada moeda tem o seu destino a cumprir
E, por isso, será uma a decidir
O este poema poder acabar à toa.
Coroa.
Coisa rara:
Cair-me na cara uma coroa.
Rafael Cardoso
Oliveira
"São sete da tarde e passa tudo a correr
Alguém vai para casa tratar mal a mulher
Ele acha natural, ela esconde as suas rugas
Aquele ali vai p'rós copos tratar das suas fugas."
Sete, Jorge Palma